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domingo, 15 de novembro de 2020

A Unidade dos Irmãos

A primeira migração para a Morávia foi em 1451. Muitos dos cidadãos de Praga, com alguns da nobreza e homens eruditos, e até mesmo alguns dos mais piedosos dos calixtinos, juntaram-se a eles. Eles então assumiram o nome de Unitas Fratrum, ou Unidade dos Irmãos. Esta foi a origem de uma comunidade que continua até os nossos dias. Pelo espaço de três anos, eles desfrutaram de paz e liberdade de consciência. O espírito missionário, pelo qual os morávios sempre se destacaram, manifestou-se naquele período inicial de sua história. Agora, a linha prateada do amor do Salvador e o zelo cristão deles brilha intensamente. Não pudemos ver nenhum traço disso quando eles estavam usando armas carnais para a defesa da verdade de Deus. Mas assim que a graça brilhou e seu número aumentou, os sacerdotes romanos os olharam com suspeita. Muitas almas foram convertidas por meio de sua pregação, e congregações foram formadas em diferentes partes do país. 

Falsas acusações foram divulgadas pelos monges e frades, obra maligna que sempre convinha às suas línguas mentirosas. “Sedição!”, foi o clamor. “Os morávios estão reunindo números”, disseram os monges, “para que possam renovar as guerras taboritas e tomar o governo”. O rei ficou alarmado; o sem princípios Rokyzan, com medo de perder sua dignidade na igreja, aliou-se aos católicos e influenciou os calixtinos a se voltarem contra seus irmãos. Eles foram denunciados como hereges incorrigíveis. Uma perseguição amarga irrompeu em toda a sua fúria sobre os irmãos missionários. Mas o joio parece ter sido separado do trigo, pois, ao contrário dos dias de Žižka, a nova geração dos antigos hussitas decidiu não usar nenhuma arma carnal em defesa de si mesmos ou de sua religião. Mas a coragem destemida, que caracterizava seus antepassados ​​no campo de batalha, era agora exibida em sua perseverança paciente de sofrimento por amor de Cristo. Sob suas mais pesadas aflições, a energia deles nunca falhou. Eles foram declarados como tendo perdido os direitos comuns de súditos do rei; suas propriedades foram confiscadas; eles foram até mesmo expulsos de suas casas no auge do inverno, e compelidos a vagar pelos campos abertos, onde muitos morreram de frio e fome. Todas as prisões na Boêmia, especialmente em Praga, estavam lotadas com os irmãos. Vários tipos de tortura foram infligidos aos prisioneiros: alguns tiveram suas mãos e pés decepados; outros foram rasgados no cavalete*, queimados vivos ou assassinados barbaramente. Esses ultrajes continuaram por quase vinte anos com pouca redução, mas a morte do rei em 1471 e o remorso de Rokyzan, o arcebispo, trouxeram um certo alívio. Eles não foram mais expostos à tortura, mas foram expulsos do país. 


Os Irmãos Unidos, assim compelidos a deixarem suas casas em Lititz e outras cidades e vilas, foram obrigados a viver em florestas e sob o abrigo de rochas, acendendo suas fogueiras à noite. E, por mais singular que possa parecer, eles não apenas se empenharam em consolar uns aos outros, mas em aperfeiçoar o que eles chamavam de “a constituição da igreja”, esquecendo-se, como muitos outros têm feito, que Deus fez perfeita a constituição da igreja no Pentecostes, e no-la revelou em Sua santa Palavra. Cerca de setenta pessoas realizaram um sínodo na floresta. Duas resoluções foram adotadas e que marcaram o futuro caráter dos morávios: (1) que era necessário providenciar homens adequados para o ofício ministerial; e (2) que eles deveriam ser escolhidos por sorteio como Matias em Atos 1:24-26. Como princípio fundamental, os irmãos sustentavam que "as sagradas escrituras são a única regra de fé e prática". Ao mesmo tempo, foi feita uma distinção entre o essencial e o não essencial, o que deixa amplo espaço para a vontade humana e a imaginação. O essencial diz respeito à questão da salvação do homem; os não essenciais, às coisas exteriores do Cristianismo, como ritos, cerimônias, costumes e regulamentos eclesiásticos. E, além disso, eles poderiam ser alterados de acordo com o melhor julgamento humano, para que a grande obra do evangelho fosse promovida. Isso é humano, não exclusivamente morávio. É, praticamente, o ditado comum: "O fim justifica os meios". Mas certamente o que Deus revelou nunca pode deixar de ser essencial, e o que Ele não revelou nunca deveria ser introduzido em Sua assembleia. 

Os irmãos que foram banidos da Morávia foram gentilmente recebidos na Hungria e na Moldávia, e se distinguiram muito por seus trabalhos missionários e outros serviços religiosos. Por volta do ano de 1470, eles publicaram na língua boêmia uma tradução de toda a Bíblia. Esta é a segunda tradução registrada da Bíblia para uma das línguas europeias. Passou por várias edições rapidamente e, dessa maneira, essas pessoas interessantes e devotadas prepararam o caminho para Lutero, Melâncton e Calvino.

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