A condição da igreja no início do século V deu ao adversário uma oportunidade de trazer uma nova heresia, que introduziu uma nova controvérsia que continuou com mais ou menos violência desde aqueles dias até hoje. Trata-se do pelagianismo. A grande heresia, o arianismo, que tinha até então agitado a igreja, originou-se no Oriente e era relacionada à Divindade de Cristo, e agora esta nova se erguia no Ocidente, e tinha por assunto a natureza do homem após a queda e suas relações com Deus. Esta deturpava a questão do pecador perdido, e aquela, o divino Salvador.
Diz-se que Pelágio foi um monge do grande monastério de Bangor, no País de Gales, e provavelmente o primeiro bretão que se distinguiu como um teólogo. Seu verdadeiro nome era Morgan. Supõe-se que seu seguidor, Celéstio, era nativo da Irlanda. Agostinho fala dele como sendo mais jovem que Pelágio -- e mais ousado e menos astuto. Estes dois companheiros no erro visitaram Roma, onde se tornaram íntimos de muitas pessoas de reputação ascética e santa, e disseminaram suas opiniões com cautela e privacidade. Mas, após o cerco do ano 410, eles passaram para a África, onde avançaram mais abertamente com suas opiniões.
Aparentemente a motivação de Pelágio não estava em qualquer desejo de formar um novo sistema doutrinal, mas sim de se opôr ao que considerava ser indolência moral e um espírito mundano entre os irmãos. Por isso, ele sustentava que o homem possuía um poder inerente para fazer a vontade de Deus e para alcançar o mais alto grau de santidade. Deste modo suas visões teológicas foram, em grande medida, bem formadas e determinadas, porém totalmente falsas, sendo consistentes somente com seu asceticismo rígido e com os frutos nativos que este produzia. Como as Escrituras inegavelmente atribuem todo o bem no homem à graça de Deus, assim Pelágio também, num sentido criado por ele próprio, reconhecia isso; mas suas ideias sobre graça divina eram, de fato, nada mais do que os meios externos para ressaltar os esforços humanos: ele não via a necessidade de uma obra de graça celestial no coração e nem da operação do Espírito Santo. Isto o levou a ensinar que o pecado de nossos primeiros antepassados não tinham prejudicado ninguém além deles mesmos, e que o homem é agora nascido tão inocente como Adão, como Deus o havia criado, e que era possuidor do mesmo poder e pureza moral. Estas doutrinas, e outras ligadas a elas, especialmente a ideia do livre arbítrio do homem -- "um poder imparcial de escolha entre o bem e o mal" -- foram secretamente disseminadas por Pelágio e seu colega Celéstio em Roma, Sicília, África e Palestina. No entanto, as novas opiniões foram geralmente condenadas, exceto no Oriente. Lá, por exemplo, João, bispo de Jerusalém, que considerava que as doutrinas de Pelágio concordavam com as opiniões de Orígenes, às quais ele tinha aderido, promoveu Pelágio, permitindo que ele professasse livremente seus sentimentos e angariasse discípulos.*
{*"O erro fundamental do monge Pelágio era a negação de nossa total corrupção pelo pecado derivado de Adão, e expiado unicamente pela morte e ressurreição do segundo Homem, o último Adão. Por isso ele pregava que a liberdade era verdadeiramente possuída por todos os homens, não apenas no sentido de isenção de alguma restrição exterior, mas da liberdade da natureza de escolher entre o bem e o mal, negando, assim, a escravidão do pecado no interior do homem. Assim, mesmo em sua aplicação cristã, ele parece ter compreendido a graça como pouco mais do que o perdão por esta ou aquela ofensa, e não como a concessão de uma nova natureza ao crente, devido a qual ele não pratica o pecado, pois nasceu de Deus. Assim não havia lugar no esquema pelagiano para o homem estar perdido de um lado, e para o crente estar salvo no outro. De fato, ele pregava que a raça humana era concebida em uma inocência como a do estado primordial de Adão até que pecasse e então caísse sob a culpa e suas consequências. Os pelagianos negavam a imputação do pecado de Adão, vendo nele nada mais do que a influência de um mal exemplo. Assim, enquanto a ruína moral do homem o fazia perder a força, bem como o relacionamento com o Cabeça da igreja, por um lado, pelo outro lado, sob a graça, estavam contadas todas as naturais e as sobrenaturais dotações da família humana. Por isso, a lei da consciência e o evangelho eram considerados como diferentes métodos e diferentes estágios de justiça, sendo os recursos e operações da graça válidos apenas de acordo com as tendências da vontade. Novamente, a redenção em Cristo se tomou, se não um mero aperfeiçoamento, com certeza uma exaltação e transfiguração da humanidade. O próprio Cristo não era nada além do padrão supremo de justiça, alguém que estimulava uns a guardarem perfeitamente a lei moral, e, por Sua obra, estimulava outros ao amor e ao exemplo pelos conselhos evangélicos da perfeição moral superior à lei." W. Kelly }
{*"O erro fundamental do monge Pelágio era a negação de nossa total corrupção pelo pecado derivado de Adão, e expiado unicamente pela morte e ressurreição do segundo Homem, o último Adão. Por isso ele pregava que a liberdade era verdadeiramente possuída por todos os homens, não apenas no sentido de isenção de alguma restrição exterior, mas da liberdade da natureza de escolher entre o bem e o mal, negando, assim, a escravidão do pecado no interior do homem. Assim, mesmo em sua aplicação cristã, ele parece ter compreendido a graça como pouco mais do que o perdão por esta ou aquela ofensa, e não como a concessão de uma nova natureza ao crente, devido a qual ele não pratica o pecado, pois nasceu de Deus. Assim não havia lugar no esquema pelagiano para o homem estar perdido de um lado, e para o crente estar salvo no outro. De fato, ele pregava que a raça humana era concebida em uma inocência como a do estado primordial de Adão até que pecasse e então caísse sob a culpa e suas consequências. Os pelagianos negavam a imputação do pecado de Adão, vendo nele nada mais do que a influência de um mal exemplo. Assim, enquanto a ruína moral do homem o fazia perder a força, bem como o relacionamento com o Cabeça da igreja, por um lado, pelo outro lado, sob a graça, estavam contadas todas as naturais e as sobrenaturais dotações da família humana. Por isso, a lei da consciência e o evangelho eram considerados como diferentes métodos e diferentes estágios de justiça, sendo os recursos e operações da graça válidos apenas de acordo com as tendências da vontade. Novamente, a redenção em Cristo se tomou, se não um mero aperfeiçoamento, com certeza uma exaltação e transfiguração da humanidade. O próprio Cristo não era nada além do padrão supremo de justiça, alguém que estimulava uns a guardarem perfeitamente a lei moral, e, por Sua obra, estimulava outros ao amor e ao exemplo pelos conselhos evangélicos da perfeição moral superior à lei." W. Kelly }