Mostrando postagens com marcador virgem Maria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador virgem Maria. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de outubro de 2022

Como Estudar a Bíblia?

"Escritura em mãos, diligência no estudo, qual é minha salvaguarda para compreendê-la? Minha própria competência? Sua adequação ao que está em mim e ao redor, o que é mais divinamente verdadeiro? Oh, não! ... Que o homem tome seu lugar de sujeição, e Deus não negará a Si mesmo -- o Espírito nunca deixa de honrar o Senhor Jesus, e está escrito: 'Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus'. Que bendito fundamento sobre o qual a alma do homem pode repousar, em contraste com o neologismo ou o fundamento infiel da competência e diligência humanas. Para o espírito de obediência e sujeição, em tudo há certeza." Querer fazer, de acordo com a palavra do Senhor, deve vir antes de saber. Deve haver prontidão para fazer Sua vontade se quisermos conhecer ou entender Sua doutrina; mas o orgulho do homem colocaria de outra forma – devo conhecer Sua palavra, antes de obedecer à Sua vontade. 

{* Veja The Present Testimony, vol. 1, pág. 52.} 

Tanto aos romanistas como aos protestantes os oráculos de Deus foram confiados, e esse Livro Sagrado será a base do julgamento dos homens diante do grande trono branco; mas, historicamente, os primeiros o mantinham guardado sob um pano, afirmando que era sagrado demais para os olhos dos homens verem ou os ouvidos dos homens ouvirem; os segundos o trouxeram à luz, difundiu-o por todas as terras e fazendo com que sua voz fosse ouvida na estrada aberta e nas ruas e becos da cidade. Assim foi realizada a Reforma. Profundamente na credulidade e devoção da multidão, Roma tinha lançado suas raízes; e ela permaneceu firme e inabalável até que as mentes das pessoas comuns tiveram acesso à Palavra de Deus. E isso foi feito pela livre circulação da Bíblia. "O movimento veio de cima, pela grande graça de Deus. O Espírito, ainda testificando de Jesus, Senhor de todos, deu sua língua e voz à Palavra. Deus estava com ela nos vasos que Ele havia preparado para a obra: e seja ao vivificar, lançando luz sobre o caminho para a glória, e sobre aqueles que viajavam nesse caminho; ou convencendo e descobrindo sobre Satanás, com seus escravos em sua marcha descendente de rebelião em direção ao inferno, era o Espírito Santo o poder do entendimento, e proclamação, e aplicação da palavra." Voltemos agora à história de Lutero. 

Repetidas vezes Lutero voltou à biblioteca do mosteiro. Com crescente deleite, ele examinou as páginas imaculadas da Bíblia em latim e desejou em seu coração que algum dia pudesse possuir tal tesouro. Ele ficou surpreso com a massa de conhecimento que continha e preso por suas narrativas simples, especialmente a história de Ana e do jovem Samuel. Mas, por mais atraente que a palavra de Deus se tornasse para ele, e por mais que gostasse de lê-la, ele estava longe de ver o caminho da salvação. O trabalho excessivo que lhe permitiu passar nos exames com honras ocasionou uma doença perigosa. Quando a morte parecia se aproximar, qual era o seu refúgio? "Ó Maria, ajuda-me!", clamava ele alto durante a noite. Ele não conhecia um salvador mais poderoso do que a Virgem Maria. "Se eu tivesse morrido naquela época", disse ele anos depois, "teria morrido confiando em Maria". O verdadeiro fundamento do perdão e salvação de um pecador nunca lhe foi apresentado; e ele havia recebido a educação mais perfeita que o lar e a igreja, com suas universidades, podiam lhe dar.  

domingo, 29 de julho de 2018

O Culto a Maria

A adoração à Virgem Maria originalmente nasceu do espírito ascético que tornou-se prevalente no século IV. Antes desse período, não há registros de adoração a Maria. Por volta da mesma época -- o final do século IV -- foi descoberto e circulava a ideia de que havia, no templo em Jerusalém, virgens consagradas a Deus, dentre as quais Maria cresceu e fez votos de virgindade perpétua. Essa nova doutrina levou à veneração de Maria como o próprio ideal do estado celibatário, e sancionou a profissão da castidade religiosa. Pouco tempo depois, tornou-se costume aplicar à virgem a designação de "Mãe de Deus", o que deu origem à controvérsia nestoriana. Mas, apesar da toda a oposição, a adoração a Maria prevaleceu; e, no século V, imagens e belas pinturas da virgem segurando o menino Jesus em seus braços foram colocadas em todas as igrejas. Assim introduzidas, elas rapidamente tornaram-se um objeto de adoração direta, e a mariolatria tornou-se a paixão governante da igreja romana. O serviço diário de devoção a Maria, e os dias e festivais que foram dedicados a sua honra, foram confirmados por Urbano II no Concílio de Clermont, em 1095.

A reverência pela bendita virgem tornou-se, então, uma doutrina e prática estabelecida na igreja de Roma, e assim continua até os dias atuais. Os romanistas podem negar que honram Maria com a adoração devida somente a Deus, mas em seus livros de devoção, orações à virgem ocupam um lugar de proeminência. Nenhuma oração, cremos, é de uso tão constante quanto o "Ave Maria", na qual, após a citação de uma passagem da saudação do anjo Gabriel à virgem, acrescentam-se as palavras: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós os pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém". Novamente, em outra oração, a virgem é assim invocada: "À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita". Outra diz assim: "Salve-Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, Salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Ela, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei", e assim por diante. Ela também é chamada de "Arca da Aliança", "Porta do Céu", "Estrela da Manhã", "Refúgio dos Pecadores", e muitos outros termos semelhantes, que mostram claramente o lugar de idolatria que Maria ocupa nas devoções da igreja católica.*

{* Para detalhes, veja "Mariolatry" em Faiths of the World, de Gardner, vol. 2, p. 372. E Vidas dos Santos, de Butler -- o grande livro católico romano sobre esse assunto. }

O Rosário, isto é, uma série de orações acompanhadas de um colar de contas (pequenas esferas) pelas quais as orações são contadas, consiste em quinze dezenas. Cada dezena contém dez Ave Marias, marcadas pelas contas pequenas, precedidas por um Pai Nosso, marcado por uma conta maior, e concluída por um Glória ao Pai. Também no Breviário Romano, o grande livro universal de devoção, o qual todo padre deve ler em privado uma porção a cada dia, sob pena de pecado mortal se não o fizer, usa a seguinte forte linguagem no que diz respeito à virgem: "Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria. Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria. Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria. Se, perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciência, aterrorizado pelo medo do juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, a despencar no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria". Assim a adoração a Maria tornou-se, completamente, a adoração da Cristandade, e toda catedral, e quase todas as igrejas espaçosas, tinha sua "Capela de Nossa Senhora".

É certamente mais que evidente, a partir dessas citações, que Maria é invocada não apenas como uma intercessora com seu Filho, mas como o primeiro e mais elevado objeto de adoração. E essas citações são exemplos calmos e sóbrios comparados à linguagem bravia de uma adoração ardente, que pode ser encontrada em hinos, saltérios e breviários. Os atributos de Deus são atribuídos a ela, que é representada como a Rainha do Céu, sentada entre querubins e serafins. O dogma da Imaculada Conceição (ou "Imaculada Concepção") foi o resultado natural dessa crescente adoração a Maria, e tem sido reafirmado como um artigo de fé na igreja católica pelos papas atuais, e aceito pelos fiéis em geral.

domingo, 8 de janeiro de 2017

O Primeiro Objeto Visível de Veneração Cristã

Por mais de trezentos anos após a primeira publicação do evangelho há boas razões para crer que nem imagens nem qualquer outros objetos visíveis de reverência religiosa eram admitidos no serviço público das igrejas, ou adotados nos exercícios de devoção privada. Provavelmente tal coisa nunca tinha sido pensada pelos cristãos antes dos dias de Constantino; e podemos apenas considerá-la como um dos primeiros frutos da união da igreja com o Estado. Até esse período o grande protesto dos cristãos era contra a idolatria dos pagãos: e por isto eles sofreram até a morte. E não é pouco notável que a imperatriz Helena, a mãe de Constantino, foi a primeira a excitar a mente cristã a esta degradante superstição. Conta-se que ela, em seu zelo por lugares religiosos, tenha descoberto e desenterrado a madeira da "verdadeira cruz". Isto foi o suficiente para o propósito do inimigo. A predileção da natureza humana por objetos de veneração se acendeu; a chama se espalhou rapidamente; e seguiu-se a usual consequência -- a idolatria.

Memoriais similares do Salvador, da Virgem Maria, dos Apóstolos inspirados, e dos "Pais da Igreja", foram também "encontrados". As relíquias mais sagradas que estavam escondidas por séculos eram então descobertas por visões. Tão grande e tão bem-sucedida foi a ilusão do inimigo que toda a igreja caiu na armadilha. Da época de Constantino até a época da invasão árabe, a veneração por imagens, pinturas e relíquias gradualmente aumentou. A reverência pelas relíquias era mais característica dos ocidentais, e a reverência por imagens das igrejas orientais. Mas, a partir da época de Gregório, o Grande, o sentimento do Ocidente se tornou mais favorável às imagens. Em consequência da decadência quase total da literatura, tanto entre o clero quanto entre os leigos, o uso de imagens tornou-se uma imensa fonte de poder para o sacerdócio. Pinturas, estátuas e representações visíveis de objetos sagrados tornaram-se o modo mais fácil de dar instruções, encorajar a devoção e fortalecer os sentimentos religiosos nas mentes do povo. Os mais intelectuais ou iluminados dentre o clero podiam se esforçar em manter a distinção entre o respeito por imagens com um meios e não como objetos de adoração. Mas a devoção indiscriminada do vulgar desconsidera totalmente essas sutilezas. O apologista pode estabelecer distinções muito sutis entre imagens como objetos de reverência e como objetos de adoração, mas não pode haver dúvida que, com mentes ignorantes e supersticiosas, o uso, a reverência, a adoração de imagens, seja em pinturas ou estátuas, invariavelmente se degenera em idolatria.

Antes do final do século VI a idolatria estava firmemente estabelecida na igreja oriental, e durante o século VII fez um progresso gradual e muito geral no Ocidente, onde já tinha anteriormente ganhado algum terreno. Tornou-se comum cair prostrado perante imagens, rezar para elas, beijá-las, adorná-las com gemas e metais preciosos, colocar as mãos sobre elas em juramento, e até mesmo empregá-las como madrinhas e padrinhos de batismo.

Reflexões sobre o Islamismo e o Romanismo

Tendo chegado a nossa história, tanto civil quanto eclesiástica, ao final do século VIII, podemos fazer uma breve pausa e refletir sobre o que vimos, onde estamos, e o que esperar. Temos visto o crescimento da Sé Romana no Ocidente, e como ela alcançou o cume de sua ambição. Vimos também o surgimento do grande poder antagonista no Oriente, inferior apenas na extensão de sua influência religiosa e social ao próprio cristianismo de modo geral. O primeiro se espalhou gradualmente no próprio centro da Cristandade iluminada, e o último surgiu de repente em um obscuro distrito de um deserto selvagem. Mas qual -- pode-se perguntar -- é a lição moral a ser tomada do caráter e dos resultados desses dois grandes poderes? Ambos foram permitidos por Deus e, se julgamos corretamente, foram permitidos por Ele como um juízo divino sobre a Cristandade por sua apostasia, e sobre os pagãos por sua idolatria. Por um lado, o grito de guerra foi erguido contra todos os que recusavam a fé ou o tributo ao credo e aos exércitos dos califas; por outro lado, um grito de guerra mais implacável foi erguido contra quem se recusasse a crer na Virgem e nos santos, suas visões e milagres, suas relíquias e imagens, de acordo com as exigência intolerantes da idólatra Roma. As igrejas orientais tinham se enfraquecido e se perdido desde os dias de Orígenes por uma filosofia platônica, na forma de uma teologia metafísica, o que causou contínuas dissensões. No Ocidente as controvérsias tinham sido grandemente evitadas: o poder era o objetivo ali. Roma tinha aspirado, por séculos, o domínio da Cristandade -- e do mundo. Ambos foram tratados judicialmente por Deus no dilúvio de fogo vindo da Arábia; mas o islamismo permanece como o poderoso flagelo de Deus no Oriente, e o romanismo no Ocidente.

domingo, 16 de outubro de 2016

A Diferença Entre Nestório e Seus Oponentes

Nunca houve uma contenda doutrinal na qual os partidos em conflito fossem tão próximos. Ambos aderiam e apelavam ao credo niceno: ambos criam na absoluta Divindade e na perfeita humanidade do Senhor Jesus. Mas foi inferido pelos inimigos de Nestório, especialmente por Cirilo, que ele era inconsistente quanto à encarnação, com base em sua objeção ao termo "mãe de Deus". O significado ou importância do disputado termo, como usado pelos doutores no século anterior, não era o de implicar que a virgem comunicou a vida divina ao Salvador, mas de afirmar a união da Divindade e humanidade em uma Pessoa -- que o "menino nos nasceu, um filho se nos deu", era Deus encarnado. Assim foi atribuída a Nestório a ideia de que ele defendia a mera humanidade do Redentor, e que o Espírito apenas habitou nEle após ter se tornado um homem, como acontecia antigamente com os profetas. Mas Nestório, enquanto viveu, se declarou totalmente oposto a tais opiniões. Também não parece que tais opiniões foram alguma vez afirmadas por ele, mas apenas inferidas por seus adversários com base na sua rejeição do epíteto "Mãe de Deus", e de alguns termos incautos e ambíguos que ele utilizou em seus discursos públicos sobre o assunto.

Anastácio e a Mariolatria

Anastácio, um presbítero que tinha acompanhado Nestório desde a Antioquia, e que era seu amigo íntimo, atacou, em um discurso público, o uso da expressão "Mãe de Deus", que era aplicada à virgem Maria. O termo então posto em oposição tão violentamente tinha do seu lado a autoridade do uso consagrado pela tradição e muitos nomes de grande peso para com o povo. Nestório aprovou o discurso, apoiou seu amigo, e em vários discursos explicou e defendeu seu ataque. Muitos ficaram satisfeitos com esses discursos, e muitos se despertaram contra Nestório e seu amigo: a agitação em Constantinopla foi imensa,  os gritos de "Heresia, heresia!" se ergueram e as chamas de uma grande e dolorosa controvérsia se acenderam.

domingo, 18 de setembro de 2016

As Virtudes e Falhas de Antônio

Antônio era evidentemente sincero e honesto, embora fosse totalmente equivocado e enganado pelos artifícios e poder de Satanás. No lugar de agir de acordo com a comissão do Salvador aos Seus discípulos, "ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15), ou de seguir Seu exemplo de andar fazendo o bem, ele achou que podia alcançar uma espiritualidade mais elevada retirando-se do meio da humanidade, e devotando-se à austeridade da vida e à comunhão ininterrupta com o céu. Ele era um cristão, mas totalmente ignorante da natureza e objetivo do cristianismo. A santidade na carne foi seu único grande objetivo, embora o apóstolo tivesse dito: "Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum" (Romanos 7:18). Portanto, tudo foi um fracasso, total fracasso: como sempre deve ser, se pensarmos que há qualquer coisa boa na natureza humana, ou tentarmos nos tornar melhores em nós mesmos. Em vez de conseguir santificar sua natureza por meio dos jejuns e do ócio, ele descobriu que toda paixão foi estimulada a uma maior atividade.

"Dessa maneira, em sua solidão", nos diz Neander, "ele teve que enfrentar muitos conflitos em suas faculdades mentais, os quais talvez poderiam ter sido evitados caso se envolvesse com algum tipo de vocação que exigisse o uso de todas as suas forças. As tentações contra as quais ele teve que batalhar foram das mais numerosas e poderosas, pois estava entregue à ociosa ocupação com si mesmo e se ocupava em lutar contra as imagens impuras que constantemente vinham do abismo de corrupção de dentro de seu coração, no lugar de esvaziar a si mesmo, dedicando-se a trabalhos mais dignos, ou de desviar o olhar para a eterna fonte de pureza e santidade. Em um período posterior, Antônio, com uma convicção fundada em longos anos de experiência, reconheceu isso e disse aos seus monges: 'Não ocupemos nossas imaginações pintando espectros e espíritos malignos; não atribulemos nossas mentes como se estivéssemos perdidos. Em vez disso, confortemo-nos e alegremo-nos todo o tempo, como aqueles que foram redimidos; e sejamos conscientes de que o Senhor está conosco, o Mesmo que os venceu e os tornou em nada. Lembremo-nos sempre que, se o Senhor está conosco, o inimigo não pode nos fazer mal. Os espíritos do mal aparecem de formas diferentes para nós, de acordo com o estado de mente com que eles nos encontram... Mas se nos encontrarem gozosos no Senhor, ocupados na contemplação da bem-aventurança futura e das coisas do Senhor, refletindo que tudo está nas mãos do Senhor, e que nenhum espírito maligno pode fazer qualquer mal ao cristão, eles afastam-se, em confusão, da alma que eles veem preservada por tais bons pensamentos."*

{* História Geral da Igreja, vol. 3, p. 310. Veja também História da Igreja, por James Craigie Robertson, vol. 1, p. 295.}

É perfeitamente claro, a partir desses conselhos aos monges, que Antônio era não apenas um cristão sincero, mas que ele tinha um bom conhecimento do Senhor e da redenção, embora tivesse sido tão completamente desviado por um coração enganado. Nunca estamos seguros a menos que nos movamos sobre as linhas diretas da Palavra de Deus. O sistema que esse homem introduziu em seus falsos sonhos de aperfeiçoamento da carne se tornou, no decorrer do tempo, um canteiro de devassidão e vício. E assim continuou por mais de mil anos. Somente no século XVI a luz divina da abençoada Reforma, lançando luz sobre um cenário de densas trevas morais, revelou a arraigada corrupção e as flagrantes enormidades das diferentes ordens monásticas. Os monges daquele tempo, como enxames de gafanhotos, cobriam toda a Europa; eles proclamavam em todos os lugares, como nos informa a História, a devida obediência à santa mãe igreja, a devida reverência aos santos, e mais especialmente à Virgem Maria, a eficácia das relíquias, os tormentos do purgatório, e as benditas vantagens decorrentes de indulgências. Mas enquanto os monges perdiam sua popularidade e influência na Reforma, uma nova ordem foi necessária para ocupar o seu lugar e fazer sua obra má: e isto foi encontrado na Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola -- os jesuítas. Mas temos de olhar mais uma vez para o inicio da história do monasticismo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Apóstolo João

João era filho de Zebedeu e Salomé, e irmão mais novo de Tiago. Embora seu pai fosse um pescador, eles aparentemente estavam em boas circunstâncias de acordo com a narrativa do Evangelho. Alguns dos antigos falam da família como sendo rica, e até mesmo de conexão nobre. Porém, tais tradições não são reconciliáveis com os fatos relatados nas Escrituras. Lemos, no entanto, de seus "jornaleiros", e eles podem ter tido mais do que apenas um barco. Quanto a Salomé, sem dúvidas, foi uma daquelas mulheres honradas que serviam ao Senhor com o que tinham. E João tinha sua própria casa (Lucas 8:3; João 19:27). A partir desses fatos, podemos inferir, com segurança, que a situação deles era consideravelmente acima da pobreza. Como muitos têm sido extremos ao falar dos apóstolos como pobres e analfabetos, é interessante observar algumas poucas dicas nas escrituras sobres esses assuntos.

Do caráter de Zebedeu nada sabemos. Ele não fez objeções a seus filhos quando o deixaram ao chamado do Messias. Mas não ouvimos mais sobre ele depois disso. Frequentemente encontramos a mãe em companhia dos seus filhos, mas não há menções ao pai. É provável que ele tenha morrido pouco depois do chamado de seus filhos.

O evangelista Marcos, ao enumerar os doze apóstolos (Marcos 3:17), quando menciona Tiago e João, diz que nosso Senhor "pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão." O que nosso Senhor particularmente pretendeu, com esse título, não é facilmente determinado. Conjecturas têm havido muitas. Alguns supõem que seria porque esses dois irmãos eram da mais furiosa e resoluta disposição, e de um temperamento mais feroz e ardente do que o resto dos apóstolos. Mas não vemos motivo para tal suposição na história narrada nos Evangelhos. Sem dúvida, em uma ou duas ocasiões o zelo deles era intemperado, mas isso foi antes de entenderem o espírito de seu chamado. É mais provável que nosso Senhor os tenha apelidado em profecia ao zelo ardente deles ao proclamar aberta e corajosamente as grandes verdades do evangelho, após tê-lo conhecido plenamente. Estamos certos de que João, em companhia de Pedro nos primeiros capítulos de Atos, demonstrou uma coragem que não temia ameaças, e não era intimidado por nenhuma oposição.

Supõe-se que João era o mais novo de todos os apóstolos e, a julgar por seus escritos, parece ter sido possuído por uma disposição singularmente carinhosa, suave e amável. Ele foi caracterizado como "o discípulo a quem Jesus amava". Em várias ocasiões, ele foi admitido a uma livre e íntima relação com o Senhor (João 13).

"O que distinguia João", diz Neander, "era a união das mais opostas qualidades, como temos muitas vezes observado em grandes instrumentos do avanço do reino de Deus - a união de uma disposição inclinada à silente e profunda meditação, com um ardente zelo, embora não impulsionado a uma grande e diversificada atividade no mundo exterior; não um zelo apaixonado, como supomos que tenha enchido os peitos de Paulo antes de sua conversão. Mas havia também um amor, não suave e flexível, mas um que se agarrava com tudo o que podia, e firmemente retia o objetivo para o qual se dirigia - vigorosamente repelindo qualquer coisa que desonrasse esse objetivo, ou tentasse arrancá-lo de sua posse; tal era sua principal característica."

E a história de João está tão intimamente conectada com as histórias de Pedro e Tiago, as quais já abordamos, que podemos agora ser bastante breves. Esses três nomes raramente são vistos separados na história dos Evangelhos. Mas há uma cena em que João aparece sozinho e que é digna de nota. Ele era o único apóstolo que seguiu Jesus ao lugar de Sua crucificação. E lá ele foi especialmente honrado com o respeito e confiança de seu Mestre. "Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa." (João 19:26-27)

Após a ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, João se tornou um dos principais apóstolos da circuncisão. Mas seu ministério continua até o final do primeiro século. Com sua morte, a era apostólica naturalmente se encerra.

Há uma tradição muito difundida e geralmente aceita de que João permaneceu na Judeia até depois da morte da virgem Maria. A data do evento é incerta. Mas logo depois ele prosseguiu para a Ásia Menor. Lá ele plantou e cuidou de várias igrejas em diferentes cidades, mas fez de Éfeso seu centro. De lá ele foi banido para a Ilha de Patmos, perto do final do reinado de Domiciano. Ali ele escreveu o livro de Apocalipse (ou Revelação) (Apocalipse 1:9). Em sua libertação do exílio, pela ascensão de Nerva ao trono imperial, João retornou a Éfeso, onde escreveu seu Evangelho e suas Epístolas. Ele morreu por volta do ano 100 d.C., no terceiro ano do imperador Trajano, e com mais ou menos cem anos de idade.*

(* Veja Introdução ao Novo Testamento de Horne}

Das muitas tradições sobre o próprio João, selecionamos apenas uma, que pensamos ser a mais interessante e a mais provável de que seja verdade. Como um que foi incansável em seu amor e cuidado para com as almas dos homens, ele estava profundamente entristecido pela apostasia de um rapaz pelo qual ele tinha especial interesse. Ao revisitar o lugar onde ele o tinha deixado, ouviu que ele tinha se unido a um bando de ladrões e se tornado o capitão deles. Seu amor por ele era tão grande que se determinou a encontrá-lo. Assim, foi ao encalço dos ladrões e deixou-se capturar, implorando que o levassem à presença do capitão deles. Quando ele viu a venerável  aparência do velho apóstolo, sua consciência foi despertada. A lembrança dos dias passados foi maior do que ele podia suportar, de modo que fugiu, em consternação, de sua presença. Mas João, cheio de amor paternal, foi atrás dele. Ele pediu que o rapaz se arrependesse e retornasse à igreja, e o encorajou pela certeza do perdão de seus pecados no nome do Senhor Jesus. Sua maravilhosa afeição para com o rapaz e sua profunda preocupação pela sua alma o venceram por completo. Ele se arrependeu, retornou, foi restaurado e, posteriormente, se tornou um digno membro da comunidade cristã. Que possamos buscar a fazer o mesmo na restauração de desviados!

Chegamos agora ao que podemos chamar de segundo grupo de quatro apóstolos; e, assim como Pedro encabeçava o primeiro grupo, o segundo é liderado pelo apóstolo Filipe.

Postagens populares