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domingo, 8 de janeiro de 2017

As Tentativas de Leão de Abolir a Adoração de Imagens (por volta de 726 d.C.)

O imperador Leão III, de sobrenome Isáurico, um príncipe de grandes habilidades, teve a ousadia de empreender, em face de tantas dificuldades, a purificação da igreja de seus detestáveis ídolos. Como os escritos do partido vencido foram cuidadosamente suprimidos ou destruídos, a história é silente quanto aos motivos do imperador: mas estamos dispostos a acreditar que o novo credo e o sucesso de Maomé influenciaram muito Leão. Além disso, havia um sentimento bastante generalizado entre os cristãos no Oriente de que a crescente idolatria da igreja era o que tinha trazido sobre eles o castigo de Deus pela invasão maometana. Os cristãos constantemente ouviam tanto dos judeus quanto dos islâmicos o odioso nome dos idólatras. A grande controvérsia evidentemente surgiu a partir dessas circunstâncias.

Leão subiu ao trono do Oriente no ano 717 e, após assegurar o império contra os inimigos estrangeiros, começou a se preocupar com os assuntos religiosos. Ele em vão pensou que podia mudar e melhorar a religião de seus súditos por seu próprio comando imperial. Por volta do ano 726, ele emitiu um decreto contra o uso supersticioso de imagens -- não sua destruição. Não podemos supôr que Isáurico estava agindo por temor ao verdadeiro Deus, mas sim que seus motivos eram puramente egoístas. Sendo chefe do império e ainda ostensivamente o chefe da igreja, ele sem dúvidas pensou que por seus decretos poderia cumprir a abolição total e simultânea da idolatria por todo o império, e estabelecer uma autocracia eclesiástica. Mas Leão superestimou demais seu poder secular nos assuntos espirituais. Havia passado o tempo de decretos imperiais mudarem a religião do império. Ele ainda tinha que aprender, para sua profunda mortificação, o desdenhoso, insolente e arrogante orgulho e poder dos pontífices, e o apego religioso do povo a suas imagens.

O primeiro decreto meramente interditou a adoração de imagens, e ordenou que fossem removidos a tal ponto que não poderiam ser tocados ou beijados. Mas o momento que a ímpia mão do imperador tocou nos ídolos, a excitação foi imensa e universal. A proibição afetou todas as classes: instruídos e não instruídos, sacerdotes e camponeses, monges e soldados, clérigos e leigos, homens, mulheres, e até crianças, se envolveram nessa nova agitação. O efeito do decreto imediatamente ocasionou uma guerra civil tanto no Oriente quanto no Ocidente. A influência dos monges foi especialmente forte. Eles arranjaram um novo pretendente ao trono, armaram a multidão e apareceram em uma frota mal equipada perante Constantinopla. Mas o fogo grego desbaratou os assaltantes desordenados; os líderes foram presos e condenados à morte. Leão, provocado pela resistência que seu decreto tinha encontrado, emitiu um segundo e mais rigoroso decreto. Ele agora ordenava a destruição de todas as imagens, e o branqueamento de todas as paredes nas quais tais coisas tinham sido pintadas.

Monotelismo e Iconoclastia

Enquanto os árabes sob Abu Bakr e Omar estavam invadindo os países gregos, e arrancando província após província do império, o imperador contentou-se em enviar exércitos para repeli-los e permaneceu em sua capital para a discussão de questões teológicas. Desde a conclusão de suas guerras bem-sucedidas contra a Pérsia, a religião tinha se tornado quase o objetivo exclusivo de sua solicitude. Duas grandes controvérsias estavam, no momento, agitando todo o mundo cristão. A primeira dessas, a assim chamada controvérsia monotelista, pode ser descrita, em geral, como um reavivamento, sob uma forma um pouco diferente, da velha heresia monofisita, ou de Eutiques. Sob o nome geral dos monofisitas estão compreendidos os quatro principais ramos de separatistas da igreja oriental: os jacobitas sírios, os coptas, os abissinianos e os armênios. O originador dessa numerosa e poderosa comunidade cristã foi Eutiques, abade de um convento de monges em Constantinopla, no século V. Os monofisitas negavam a distinção das duas naturezas em Cristo; os monotelitas, por outro lado, negavam a distinção da vontade, divina e humana, no bendito Senhor. Uma tentativa bem-intencionada, porém frustrada, do imperador Heráclito, foi reconciliar os monofisitas à igreja grega. Mas, como o som da controvérsia é raramente ouvido dentre os sectários orientais após esse período, e como um relato detalhado de suas disputas não seria de nenhum interesse aos nossos leitores, deixamos isto para as páginas da história eclesiástica.*

{* Para maiores detalhes sobre as diferentes seitas, veja Dicionário das Igrejas Cristãs e Seitas, de Marsden, e Crenças do Mundo, de Gardner.}

A iconoclastia, ou o surto de destruição de imagens, merece uma consideração mais detalhada. Ela penetrou no coração da Cristandade como nenhuma outra controvérsia tinha feito até então, e forma uma importante época na história da Sé Romana. Jezabel agora aparece em suas verdadeiras cores, e, deste momento em diante, seu caráter maligno é indelevelmente estampado no papado. Os papas que então preenchiam a cadeira de São Pedro defendiam e justificavam abertamente a adoração a imagens. Este foi, certamente, o início do papado -- a maturidade do sistema de desonra a Deus. Os fundamentos do papado foram descobertos, e assim tornou-se evidente que a perseguição e a idolatria eram os dois pilares sobre os quais seu domínio arrogante repousava.

domingo, 25 de dezembro de 2016

A Doação Territorial de Carlos Magno

A real extensão de sua doação é muito difícil de determinar. Mas parece ser da opinião geral dos historiadores que ela incluía não apenas o exarcado de Ravena, mas os ducados de Espoleto e Benevento, Veneza, Istria, e outros territórios no norte da Itália -- em suma, quase toda a península com a ilha de Córsica. Todo Nabote foi roubado de sua vinha, e seu sangue derramado, para a gratificação da ambição de Jezabel, e para o estabelecimento de seu trono de iniquidade. Mas o marco da consumação e selo de toda a iniquidade foi o modo como o papa buscou reconciliar seu caráter de vicário de Cristo com sua nova posição. Como todos os homens estão sujeitos a Cristo, ele raciocinou, assim do mesmo modo eles são sujeitos ao Seu vicário e representante na terra em tudo o que pertence ao Seu reino. Mas este reino se estende sobre todos, portanto nada pertencente a este mundo ou seus assuntos podem estar acima ou além da jurisdição da cadeira de São Pedro. Nosso reino não é deste mundo; ele é, assim como Cristo, em todos, sobre todos e sobre tudo. De acordo com esta teoria, nenhum domínio secular deveria ser considerado inconsistente com a declaração do Salvador no que diz respeito ao Seu reino. É neste pressuposto ímpio, desde então, que os papas têm sempre agido. Daí sua interferência com o sacerdote e o povo, com o rei e o súdito, com a terra e o mar, sobre todo o mundo.

Carlos Magno visitou Roma novamente em 781, e uma terceira vez em 787, e em cada ocasião a igreja foi enriquecida por presentes, concedidos, como ele professava na linguagem da época, "para o bem de sua alma". Submergido em gratidão e plenamente consciente de sua própria necessidade um defensor permanente, o papa coroou Carlos Magno na véspera do Natal do ano 800 com a coroa do império ocidental, e o proclamou César Augusto. Um príncipe franco, um teutão, foi assim declarado o sucessor dos Césares, e empunhou todo o poder do imperador do Ocidente. "O império de Carlos Magno", diz Milman, "foi quase proporcional à Cristandade latina; a Inglaterra foi o único grande território que reconhecia a supremacia de Roma e não se sujeitou ao novo império ocidental"*. Este evento deu início a uma grande época nos anais da Cristandade romana.

{* Veja Milman, vol. 2. Greenwood, vol. 2.}

Devemos agora deixar o Ocidente por um tempo, e tornar nossa atenção para uma outra grande revolução religiosa que repentina e inesperadamente surgiu no Oriente -- o maometismo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A Condição dos Cristãos Durante o Reinado de Trajano (98-117 d.C.)

Uma vez que a história externa da igreja tenha sido afetada pela vontade de um homem, será portanto necessário observar, embora brevemente, a disposição da paixão pelo governo do príncipe reinante. A condição dos cristãos em todo lugar dependia, em grande parte, daquele que era o mestre do mundo romano, e de certo modo do mundo todo. Ainda assim, Deus estava e está acima de tudo.

Trajano foi um imperador de grande renome. Talvez nunca mais alguém assim tenha se sentado no trono dos Césares. O mundo romano, dizem, alcançou seus mais amplos limites por suas vitórias. Ele fez com que o terror das armas e da disciplina romana fossem sentidas nas fronteiras, como nunca antes tinha sido feito. Ele foi, portanto, um grande general e soberano militar; e, possuindo uma grande e vigorosa mente, ele foi um governante capaz, fazendo Roma florescer sob sua influência. No entanto, na história da igreja, essa personagem aparece em uma luz menos favorável. Ele tinha um preconceito confirmado contra o cristianismo, e sancionou a perseguição aos cristãos. Alguns dizem que ele anelava a extinção desse nome. Esta é a mancha mais profunda que repousa sobre a memória de Trajano.

Mas o cristianismo, apesar dos imperadores romanos, das prisões romanas e das execuções romanas, prosseguiu em sua silente e firme caminhada. Em pouco mais que setenta anos depois da morte de Cristo, o cristianismo tinha feito tão rápidos progressos em alguns lugares que chegavam a ameaçar a queda do paganismo. Os templos pagãos estavam desertos, a adoração aos deuses foi negligenciada, e as vitimas para os sacrifícios eram raramente compradas. Isto naturalmente levantou um clamor popular contra o cristianismo, assim como houve em Éfeso: "E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada." (Atos 19:27). Aqueles cujo sustento dependia da adoração das divindades pagãs lançavam muitas e graves acusações contra os cristãos perante os governantes. Isto aconteceu mais especialmente nas províncias asiáticas onde o cristianismo foi mais prevalente.

Por volta do ano 110, muitos cristãos foram então levados perante o tribunal de Plínio, o Jovem, o governador de Bitínia e Ponto. Mas Plínio, sendo naturalmente um homem sábio, cândido e humano, teve o cuidado de se informar sobre os princípios e práticas dos cristãos. Quando ele descobriu que muitos deles foram condenados à morte, não tendo nada que os condenasse por qualquer crime público, ele ficou imensamente embaraçado. Ele não tinha tomado parte em tais assuntos antes, e nenhuma lei sobre o assunto existia até então. Os decretos de Nero tinham sido repelidos pelo Senado, e aqueles de Domiciano pelo seu sucessor, Nerva. Sob tais circunstâncias, Plínio buscou o conselho de seu mestre, o imperador Trajano. As cartas que eles trocaram, sendo justamente consideradas como os mais valiosos registros da historia da igreja durante aquele período, merece um lugar em nosso livro. Mas podemos apenas transcrever uma parte da celebrada epístola de Plínio, e principalmente aquelas partes que se referem ao caráter dos cristãos, e a extensão do cristianismo.

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