Capítulo 32: A Palavra de Deus Impressa (1397-1516 d.C.)
No ano de 1453, após um cerco fechado de 53 dias, a capital da Cristandade oriental caiu nas mãos dos vitoriosos turcos. O imperador, que tinha o nome do fundador de Constantinopla, demonstrou grande bravura durante o cerco; ele jogou fora sua púrpura e lutou na brecha, até que ele, com os nobres que o cercavam, caiu entre os mortos. Este foi o último dos Constantinos e o último imperador cristão de Constantinopla. A maioria dos habitantes que restaram foi vendida como escravos ou massacrada, e cinco mil famílias turcas foram trazidas para a cidade como colonos. Seguiram-se destruição, violência e palavrões, excedendo em muito nossa capacidade de descrevê-los. A antiga igreja de Santa Sofia foi despojada de todas as valiosas oferendas de séculos, as imagens foram quebradas em pedaços e, depois de ter sido palco de grosseiras profanações, foi transformada em uma mesquita. Os tesouros da erudição grega – que alguns dizem terem chegado a cento e vinte mil livros manuscritos – foram destruídos ou dispersos. A conquista estava completa, e Maomé II imediatamente transferiu a sede de seu governo para Constantinopla.
Mas a ambição ilimitada do feroz otomano
estava longe de ser satisfeita: ele contemplava nada menos do que a conquista
de toda a Cristandade. E de suas vitórias rápidas e fáceis sobre muitos dos
principados cristãos menores no Oriente, pareceria que, se a morte não tivesse
livrado o mundo de tal tirano, ele poderia ter seguido seu caminho de conquista
através do coração da Europa. Que cidade, que reino, que poder, iria prender o
invasor feroz? Toda a Europa estremeceu, especialmente a Itália. Dizem que a
morte de Nicolau V foi antecipada pela notícia da captura de Constantinopla. A
tristeza e o medo partiram o coração do velho. Mas depois de derrubar impérios,
reinos e cidades sem número, Maomé II morreu, aos cinquenta anos, de dores
internas, supostamente efeitos de veneno.
As notícias sobre essas pesadas
calamidades no Oriente espalharam uma profunda escuridão sobre todo o Ocidente.
Mas aquilo que ameaçava deter o progresso da civilização e a propagação do
Cristianismo foi sobrepujado por uma Providência sábia e boa para o avanço de
ambos de uma maneira maravilhosa. A queda de Constantinopla nas mãos dos
infiéis levou muitos gregos eruditos para a Itália, e da Itália para muitos
outros países da Europa. Aconteceu, justamente nessa época, que o papa
reinante, Nicolau V, se distinguiu por seu amor pela literatura, o que ele
muito promoveu por sua posição e riqueza. Os refugiados trouxeram os livros que
conseguiram resgatar das ruínas de seu império caído. O estudo do grego foi
revivido por esses meios e se tornou extremamente popular. Entre esses alunos,
aprouve a Deus suscitar homens de mente altamente cultivada e coração devoto,
que muito fizeram no preparo do caminho para a grande Reforma.