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domingo, 8 de julho de 2018

A Penitência de Henrique na Tumba de Becket (1174 d.C.)

Por volta de três anos após a morte de Becket, o rei visitou sua tumba em Cantuária. Quando avistou a igreja onde o arcebispo foi enterrado, ele desceu de seu cavalo e andou por três milhas no hábito de um peregrino de pés descalços e ensanguentados ao longo da estrada áspera. Ele se lançou prostrado perante a tumba do então canonizado santo. Após permanecer naquela posição por um tempo considerável, ele orou para que fosse açoitado pelos monges: uma operação que eles estavam bem dispostos a realizar. Então, de um lado a outro da igreja, o orgulho dos monges foi gratificado por cada um infligindo algumas chicotadas nas costas do altivo normando. Ele passou, então, todo aquele dia e noite sem qualquer descanso, ajoelhado sobre as pedras nuas.

O triunfo do poder espiritual sobre o secular, na pessoa do rei e por extensão sobre a lei do país, estava completo. E assim, os ambiciosos propósitos do papado foram melhor servidos pela morte de seu campeão (Becket) do que poderiam ser por um prolongamento de sua vida.

A Humilhação de Henrique II

O rei ficou muito perturbado ao ouvir as terríveis notícias sobre o assassinato sacrílego. Um sentimento de horror correu pela Cristandade, e o rei foi marcado como um tirano irreligioso, e Becket foi adorado como um santo martirizado. Sua morte foi atribuída às ordens diretas do rei. Por três dias e noites, o infeliz monarca trancou-se em solidão, e recusou qualquer comida e conforto, até que seus criados começaram a temer por sua vida. Ao final de sua penitência, ele enviou homens ao papa para limpar-se de qualquer participação no crime. O papa Alexandre estivera tão indignado no início que não ouviria a nada, ou sequer permitiria que o nome execrável do rei da Inglaterra fosse proferido em sua presença. Ele ameaçou excomungar o rei pelo nome e pronunciar com a máxima solenidade um interdito em todos os seus domínios. "Mediadores, no entanto, sempre podiam ser encontrados", diz Greenwood, "para uma consideração adequada na corte papal. Certos cardeais foram cautelosamente contactados, e não se mostraram inacessíveis aos argumentos com os quais os enviados foram, como sempre, abundantemente supridos. Assim introduzidos, o papa permitiu-se ser propiciado." Termos de reconciliação foram discutidos, mas o papa tinha, então, seu pé sobre o pescoço do rei, e estava determinado a impôr seus próprios termos papais antes que o aliviasse. Seu triunfo pessoal sobre o teimoso rei foi tão completo quanto ele podia desejar. 

Dois cardeais foram enviados por Alexandre com poder legatino para se encontrarem com Henrique na Normandia, para inquirirem mais plenamente sobre todo o caso, e para substanciar a penitência do rei. Henrique jurou sobre os Evangelhos que ele não tinha ordenado nem desejado a morte de Becket, e que ele não havia sofrido tanto pela morte de seu pai ou de sua mãe quanto pela morte do arcebispo; ele confessou também que palavras proferidas em sua raiva contra aquele homem santo podiam possivelmente ter levado a sua morte, por cuja causa ele estaria preparado a prestar penitência de acordo com o que o pontífice achasse adequado. A Santa Sé então exigiu a Henrique: "1. Que mantivesse duzentos cavaleiros as suas próprias custas na Terra Santa. 2. Que dentro de três anos ele tomasse a cruz* em pessoa, a menos que fosse libertado dessa obrigação pela Santa Sé. 3. Que revogasse a Constituição de Clarendon e todos os maus costumes introduzidos durante seu reinado. 4. Que reinvestisse à igreja de Cantuária todos os seus direitos e posses, e que perdoasse e restaurasse às suas propriedades todos os que incorreram em sua ira na causa do primaz. 5. Que ele e seu filho Henrique, o mais novo, mantivessem e preservassem a coroa da Inglaterra fiel ao papa Alexandre e a seus sucessores, e que eles e seus sucessores não se considerassem verdadeiros reis até que eles -- o papa e seus sucessores -- os reconhecessem como tais." Tendo devidamente selado e atestado o ato formal, o rei foi reconciliado com o papa no pórtico da igreja em 22 de maio de 1172, mas não estava ainda livre das mãos dos inexoráveis padres: sua degradação não estava ainda completa.

{*N. do T.: "Tomar a cruz", na época, indicava a decisão de ir defender a Terra Santa.}

O clero pregava de seus púlpitos, e o povo era pronto o suficiente para crer, que certas provações familiares que caíram sobre o rei por volta dessa época eram os juízos de Deus pela perseguição de Seu santo. O povo foi também levado a acreditar que o santo estivera lutando as batalhas do pobre contra o rico -- especialmente dos pobres e oprimidos saxões contra os cruéis e avarentos normandos. Deprimido pelos infortúnios, acusado de cumplicidade com os assassinos, e assombrado pelos temores supersticiosos, o príncipe infeliz estava preparado para fazer uma expiação completa por seus pecados. Ele estava certo que nada menos que uma humilhação pública poderia apaziguar o céu ofendido e o santo martirizado. As cenas de Canossa deveriam ser encenadas novamente. Tal é o verdadeiro espírito do sacerdócio implacável de Roma. Se eles não podem derramar o sangue de suas vítimas, eles as forçarão a beber as mais amargas escórias da humilhação.

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