A Palavra de Deus, que pode tornar os homens sábios para a salvação, foi tirada do povo. Nem mesmo os bispos se envergonhavam de confessar que nunca haviam lido nenhuma parte das Escrituras Sagradas, exceto as que encontravam em seus missais. O serviço religioso era murmurado em uma língua morta, que muitos dos padres não entendiam, e alguns deles mal podiam ler; e o maior cuidado foi tomado para evitar que até mesmo catecismos, compostos e aprovados pelo clero, caíssem nas mãos dos leigos. O sacrifício da missa era representado como a obtenção do perdão dos pecados aos vivos e aos mortos; e as consciências dos homens foram privadas do precioso sacrifício, a obra consumada do Senhor Jesus Cristo. E em vez disso foi colocada uma confiança ilusória nas absolvições sacerdotais, perdões papais e penitências voluntárias.
"Eles eram ensinados", disse o eminente
historiador de John Knox, "que se regularmente dissessem suas aves e credos,
se confessassem a um sacerdote, pagassem pontualmente seus dízimos e ofertas à
igreja, comprassem uma missa, fossem em peregrinação ao santuário de algum
santo célebre, se abstivessem de carne às sextas-feiras, ou realizassem algum
outro ato prescrito de mortificação corporal, a salvação deles estaria infalivelmente
garantida em seu devido tempo; enquanto aqueles que eram tão ricos e tão
piedosos a ponto de construir uma capela ou um altar e doá-lo para o sustento
de um sacerdote, para realizar missas, obituários e hinos fúnebres, proporcionava
uma amenização das dores do purgatório para eles ou para seus parentes na
proporção da extensão de sua generosidade. É difícil para nós conceber o quão
vazios, ridículos e miseráveis eram os discursos que os monges faziam em seus
sermões. Contos lendários sobre o fundador de alguma ordem religiosa, sua
maravilhosa santidade, os milagres que ele realizou, seus combates com o diabo,
suas penitências, jejuns, flagelações; as virtudes da água benta, crisma, sinal
da cruz e exorcismo; os horrores do purgatório, e os números daqueles liberados
disso por meio da intercessão de algum santo poderoso; isso tudo, com gracejos
baixos, discursos de vanglória e escândalos constituíam os tópicos favoritos
dos pregadores e eram servidos ao povo no lugar das doutrinas puras, salutares
e sublimes da Bíblia.
"Os leitos dos moribundos eram sitiados, e seus últimos
momentos perturbados, por padres avarentos que labutavam para extorquir heranças
para si próprios ou para a igreja. Não satisfeitos com a cobrança do dízimo dos
vivos, uma exigência foi feita aos mortos: mal o pobre lavrador tivesse dado o
último suspiro, o vigário voraz logo vinha e levava consigo seu corpo presente –
isto é, um presente do cadáver para o vigário, o que ele fazia sempre que a
morte visitava a família.* As censuras eclesiásticas eram fulminadas contra
aqueles relutantes em fazer esses pagamentos, ou que se mostrassem
desobedientes ao clero. O serviço divino era negligenciado; e, exceto em dias
de festas, as igrejas, em muitas partes do país, não eram mais utilizadas para
fins sagrados, mas serviam como santuários para malfeitores, locais de tráfico
ou resorts para passatempos.
{* O corpo presente era o privilégio do vigário em caso de
morte. Nas paróquias rurais, consistia na melhor vaca que pertencia ao falecido
e na cobertura superior de sua cama, ou nas melhores roupas da pessoa morta. E
esta exigência, que era feita com grande rigor na Escócia e em outros lugares,
era separada das taxas comuns exigidas para o enterro do corpo e para a
libertação da alma do purgatório. N. do. T.: Esse costume não deve ser confundido
com a “missa de corpo presente” adotada pela Igreja Católica no Brasil.}
"A perseguição e a supressão do livre questionamento foram
as únicas armas pelas quais seus partidários interessados foram capazes de
defender esse sistema de corrupção e impostura. Todas as vias pelas quais a
verdade pudesse entrar foram cuidadosamente guardadas. O aprendizado foi
rotulado como o pai da heresia. Se qualquer pessoa que tivesse atingido um
certo grau de iluminação em meio à escuridão geral começasse a sugerir
insatisfação com a conduta dos religiosos e a propor a correção dos abusos, era
imediatamente estigmatizado como herege e, se não garantisse sua segurança por
meio da fuga, era aprisionado em uma masmorra, ou entregue às chamas. E quando
finalmente, apesar de todas as suas precauções, a luz que brilhava ao redor
irrompeu e se espalhou por toda a nação, o clero preparou-se para adotar as
mais desesperadas medidas sangrentas para sua extinção."
Será agora desnecessário rastrear a origem e o progresso do
papado em outras terras. O esboço acima da condição das coisas na Escócia, do
século XIII ao século XVI, pode ser suficiente para ilustrar o estado de toda a
Europa, e para o propósito da história. Como sistema, é o mesmo em todas as eras
e em todos os países. Seu grande dogma sempre foi: a Unidade da Igreja Católica
Romana. Seja nas vizinhanças imediatas de Roma ou nas regiões distantes do
norte, seu espírito é o mesmo, e deve ser assim até que chegue ao seu fim pelo
julgamento direto do próprio Senhor do céu. “Quanto ela se glorificou, e em
delícias esteve, foi-lhe outro tanto de tormento e pranto; porque diz em seu
coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto. Portanto,
num dia virão as suas pragas, a morte, e o pranto, e a fome; e será queimada no
fogo; porque é forte o Senhor Deus que a julga.” (Apocalipse 18: 7-8)
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