Uma vez que quase todas as instituições monásticas em toda a Europa, por mais de seiscentos anos, foram regulamentadas pela Regra de São Bento, basta apenas darmos algum relato sobre essa célebre ordem para conhecermos a constituição e o caráter de todas elas. E, como o nome delas é legião, pouparemos o leitor de demasiada repetição.
Esse homem notável era filho de um senador romano nascido em Núrsia, na Itália, tendo nascido em 480 d.C. Aos 12 anos, foi enviado para estudar em Roma. Ele provavelmente tinha ouvido e lido sobre a vida dos santos anacoretas e eremitas do Oriente. Com esses exemplos diante de sua mente e as irregularidades de seus colegas estudantes ao seu redor, ele ansiava pela solidão. Por volta dos quinze anos de idade, incapaz de suportar por mais tempo o estado corrupto da sociedade romana, ele se separou até mesmo de sua fiel babá, Cirila, que havia sido enviada com ele a Roma por seus pais, e a deixou lamentando sua perturbação mental. Os ferozes hunos e vândalos haviam transformado até o coração da Itália em um deserto, de modo que o jovem eremita encontrou um local isolado não muito longe de Roma. Por anos ele viveu em uma caverna solitária; a única pessoa que conhecia o segredo de seu retiro era um monge chamado Romano, que lhe fornecia pão da economia de uma parte de sua própria mesada diária. Mas, como uma rocha íngreme ficava entre o claustro de Romano e a gruta de Bento, o pão era descido por um barbante até a boca da caverna. Com o tempo, ele foi descoberto por alguns pastores, que ficaram encantados ao ouvir suas instruções e testemunhar seus milagres. À medida que a fama de sua piedade aumentava, ele foi persuadido a se tornar abade de um mosteiro das redondezas; mas a rigidez de sua disciplina desagradou seus internos, e eles concordaram em se livrar do severo recluso misturando veneno em seu vinho. Mas, ao fazer o sinal-da-cruz, o que geralmente fazia com sua comida e bebida, o copo se despedaçou; então ele repreendeu suavemente os monges e voltou para sua caverna na montanha.
Bento tornara-se então de maior interesse do que nunca. Sua fama se espalhou, grandes multidões se lhe aglomeravam, homens ricos e influentes se lhe juntaram, e grandes somas de dinheiro foram colocadas à sua disposição. Ele estava então em condições de construir doze mosteiros, cada um deles consistindo de doze monges, sob um superior. Tendo conseguido até então cumprir o objetivo de sua residência no distrito, e inquieto com a invejosa interferência de Florêncio, um padre vizinho, deixou o vilarejo de Subiaco com alguns seguidores no ano de 528. Após algumas andanças, chegou ao Monte Cassino, onde Apolo ainda era adorado pelos rústicos. Com grande habilidade e energia ele desenraizou os restos da idolatria pagã entre os camponeses. Ele cortou o bosque sagrado, destruiu o ídolo de Apolo que havia ali, e no local do altar foi erguido um oratório, que ele dedicou a São João Evangelista e a São Martinho. Essa foi a semente do grande e renomado mosteiro que se tornou a raiz mãe de inúmeros ramos que em pouco tempo cobriram a face da Europa. Aqui, Bento redigiu sua famosa Regra, por volta do ano 529. Ela consiste em setenta e três capítulos que contêm um código de leis que regulamenta os deveres dos monges entre si e entre o abade e seus monges. Ele provê regras para a administração de uma instituição, composta de toda variedade de caráter, engajada em toda variedade de ocupação, mas tudo estando perfeitamente sujeito a um governante absoluto. A abrangência de seu sistema é surpreendente por ser o resultado de uma única mente e sem exemplos ou precedentes. A Regra de São Bento é considerada pelos eruditos como o monumento mais célebre da antiguidade eclesiástica e foi, em suas operações, a própria força e palavra de ordem da dominação de Roma sobre o continente europeu.
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