Mostrando postagens com marcador perseguição. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador perseguição. Mostrar todas as postagens

domingo, 10 de janeiro de 2016

A Verdadeira Causa da Perseguição

Embora diferentes razões possam ser dadas por diferentes pessoas e governos para perseguir os cristãos, ainda assim cremos que a verdadeira causa é a inimizade do coração contra Cristo e Sua verdade, como vista nas vidas piedosas de Seu povo. Além disso, a luz deles torna manifesta a escuridão ao redor, e expõe e reprova as inconsistências dos falsos professos e as vidas ímpias dos malignos. O inimigo, tomando ocasião por essas coisas, desperta as paixões cruéis daqueles que tinham o poder para apagar a luz ao perseguirem os portadores da luz. "Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz" (João 3:20). Tal tem sido a experiência de todos os cristãos, em todas as épocas, tanto em tempos de paz quanto em tempos de angústia. Não há isenção de perseguição, secreta ou abertamente, se vivermos de acordo com o Espírito e a verdade de Cristo. Dentre as últimas palavras que o grande apóstolo escreveu estavam estas: "E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições." (2 Timóteo 3:12)

Estas verdades divinas, dadas para a instrução e direção da igreja em todas as eras, foram admiravelmente ilustradas no caso de Plínio e dos cristãos da Bitínia. Ele é citado por todos os historiadores como um dos mais esclarecidos, virtuosos e realizados homens da antiguidade. Ele foi também possuidor de grandes riquezas, e tinha a reputação de ser muito liberal e benevolente em sua vida privada. Por que então, podemos perguntar, sendo um estadista e governador romano, ele se tornou um tal perseguidor dos cristãos? Esta pergunta ele responde em sua própria carta. Foi simplesmente pela fé deles em Cristo - nada mais. Tinha sido provado a ele, tanto por amigos quanto por inimigos, que os cristãos não eram culpados de mal algum, nem moralmente, socialmente e politicamente. Fazendo três vezes a pergunta "Vocês são cristãos?", e se eles firmemente afirmassem que eram, ele os condenava à morte. O único pretexto que ele deu para cobrir a injustiça de sua conduta como governador era o fato de que os cristãos professavam obstinadamente uma religião não estabelecida pelas leis do império.

Muitos, por causa de malícia privada e outras razões, eram nesse tempo anonimamente acusados de serem cristãos, sendo que de fato não eram. Estes eram testados sendo chamados para negar sua fé, oferecer incenso aos deuses, adorar a imagem do imperador, e insultar a Cristo. Todos os que se conformavam a esses termos eram dispensados. Mas a nenhuma dessas coisas, como o próprio Plínio dá testemunho, podiam ser os verdadeiros cristãos compelidos a fazer. Ele, em seguida, recorreu ao costume brutal de examinar pessoas inocentes por tortura. Duas mulheres, notáveis servas da igreja, foram então examinadas. Mas, em vez da esperada confissão sobre o rumoroso caráter sedicioso (revoltoso) e licencioso (desregrado) de suas reuniões, nada desfavorável à comunidade cristã podia ser extraído delas por tortura. O governador não podia detectar nada por quaisquer meios tentados, exceto o que ele chama de "uma superstição perversa e extravagante".

Também deve-se ter em mente, tanto pelo crédito como também pela culpa mais profunda de Plínio, que ele não procedeu contra os cristãos por mero preconceito popular - ao contrário de seu amigo Tácito, que se deixou levar pelos rumores e, sem qualquer investigação mais profunda, escreveu contra o cristianismo da maneira mais irracional e desgraçada. Mas Plínio considerou como dever entrar em cuidadosa investigação sobre toda a questão antes de dar seu julgamento. Como, então, podemos explicar que tal homem, aparentemente desejoso de agir de forma imparcial, pudesse perseguir até a morte pessoas inocentes? Para responder esta pergunta, devemos investigar as causas externas ou ostensivas da perseguição.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Carta de Trajano para Plínio

"Você agiu perfeitamente correto, meu caro Plínio, na pergunta que me fez a respeito dos cristãos. Pois, realmente, não há uma regra geral que possa ser prevista para ser aplicada a todos os casos. Essas pessoas não dever ser procuradas: se forem trazidas diante de você e estiverem convictos, que seja aplicada pena capital, mas com essa restrição: que se alguém renunciar ao cristianismo, e evidenciar sua sinceridade suplicando aos nossos deuses, por mais suspeito que tenha sido no passado, que seja perdoado por seu arrependimento. Mas libelos anônimos em nenhum caso devem ser levados em consideração, pois é um precedente muito perigoso e perfeitamente incongruente com as máximas de nossa era."
O testemunho claro e insuspeito dessas duas cartas desperta pensamentos e sentimentos do mais profundo interesse na mente cristã de hoje em dia. A Primeira Epístola de Pedro foi endereçada aos pais desses santos sofredores, e possivelmente a alguns dos que ainda estavam vivos. E não é improvável que Pedro tenha trabalhado entre eles pessoalmente. Assim eles foram ensinados e encorajados de antemão a dar ao governador romano "a razão da esperança que havia neles com mansidão e temor" (1 Pedro 3:15). De fato, a totalidade da primeira epístola parece divinamente equipada para fortalecer aqueles cristãos inocentes contra o injusto e irracional proceder de Plínio. "Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este mesmo pensamento" (1 Pedro 4:1). Pedro contempla em sua epístola a família da fé como se estivesse em uma jornada através do deserto, e Deus como o supremo Governador sobre todos - tanto crente como incrédulos. "Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal." (1 Pedro 3:12). Com tal cena diante de nós, e com tais testemunhas, levando em consideração a posição de Trajano e Plínio como estadistas pagãos, pode ser interessante indagar nessa fase tão inicial de nossa história qual a real causa da perseguição.

Carta de Plínio ao Imperador Trajano

"Saúde. É meu costume usual, senhor, consultá-lo em todas as coisas das quais tenho qualquer dúvida. Pois quem pode melhor dirigir meu julgamento e sua hesitação, ou instruir meu entendimento em sua ignorância? Eu nunca tive a chance de estar presente em qualquer julgamento de cristãos antes de chegar a esta província. Estou, portanto, perdido em determinar qual o assunto corrente, quer de inquérito ou de punição, e que duração qualquer um deles deveria ter... Enquanto isso, este tem sido meu método com respeito àqueles que foram trazidos diante de mim por serem cristãos. Perguntei-lhes se eram cristãos: caso se declarassem culpados, eu os interrogava - uma segunda e uma terceira vez - com uma ameaça de pena capital. Em caso de perseverança obstinada, eu ordenei que fossem executados... Um 'libelo' anônimo foi publicado, contendo os nomes de muitos que negavam que eles eram, ou tinham sido, cristãos, e invocavam os deuses, como ordenei que fizessem, e rezavam para tua imagem com incenso e vinho, e além disso insultavam o Cristo; enfim, coisas que tenho ouvido que jamais um cristão seria compelido a fazer. Então achei adequado dispensar estes... A totalidade do crime ou erro dos cristãos se baseia nisso: eles estão acostumados a se reunir antes do dia amanhecer, e a cantar juntos um hino a Cristo, como a um deus, e se comprometer através de juramento a não cometer qualquer maldade, a não ser culpado de furto, ou roubo, ou adultério; a nunca falsificar sua palavra, nem se negar a devolver um penhor quando solicitados a fazê-lo. Quando essas coisas eram feitas, era o costume deles se separarem, e então voltarem a se reunir para uma refeição inofensiva, da qual participavam em comum sem qualquer desordem. Mas desta última prática eles deixaram de participar desde a publicação de meu decreto, pelo qual, de acordo com minhas ordens, proibi tais assembleias."

"Após este relato, julguei mais necessário examinar, e por tortura, duas mulheres que diziam ser diaconisas, mas não tenho descoberto nada exceto uma má e excessiva superstição. Suspendendo, portanto, todos os processos judiciais, recorro a ti para aconselhar-me. O número de acusados é tão grande que foi necessária esta séria consulta. Muitas pessoas estão sendo denunciadas, de todas as idades e classes, e de ambos os sexos, e muitos ainda irão ser acusados. O contágio dessa superstição não tem atingido apenas as grandes cidades, mas também as cidades menores, e o campo: no entanto, parece-me que pode ser contido e corrigido. É certo que os templos que estavam quase abandonados começaram a ser mais frequentados, e as solenidades sagradas, após um longo intervalo, estão revividas. Vítimas para os sacrifícios, da mesma forma, tem sido trazidas de todos os lugares, embora ainda haja poucos compradores. Daí podemos facilmente imaginar o número daqueles que podem ser recuperados se o perdão for concedido àqueles que se arrependem."

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A Condição dos Cristãos Durante o Reinado de Trajano (98-117 d.C.)

Uma vez que a história externa da igreja tenha sido afetada pela vontade de um homem, será portanto necessário observar, embora brevemente, a disposição da paixão pelo governo do príncipe reinante. A condição dos cristãos em todo lugar dependia, em grande parte, daquele que era o mestre do mundo romano, e de certo modo do mundo todo. Ainda assim, Deus estava e está acima de tudo.

Trajano foi um imperador de grande renome. Talvez nunca mais alguém assim tenha se sentado no trono dos Césares. O mundo romano, dizem, alcançou seus mais amplos limites por suas vitórias. Ele fez com que o terror das armas e da disciplina romana fossem sentidas nas fronteiras, como nunca antes tinha sido feito. Ele foi, portanto, um grande general e soberano militar; e, possuindo uma grande e vigorosa mente, ele foi um governante capaz, fazendo Roma florescer sob sua influência. No entanto, na história da igreja, essa personagem aparece em uma luz menos favorável. Ele tinha um preconceito confirmado contra o cristianismo, e sancionou a perseguição aos cristãos. Alguns dizem que ele anelava a extinção desse nome. Esta é a mancha mais profunda que repousa sobre a memória de Trajano.

Mas o cristianismo, apesar dos imperadores romanos, das prisões romanas e das execuções romanas, prosseguiu em sua silente e firme caminhada. Em pouco mais que setenta anos depois da morte de Cristo, o cristianismo tinha feito tão rápidos progressos em alguns lugares que chegavam a ameaçar a queda do paganismo. Os templos pagãos estavam desertos, a adoração aos deuses foi negligenciada, e as vitimas para os sacrifícios eram raramente compradas. Isto naturalmente levantou um clamor popular contra o cristianismo, assim como houve em Éfeso: "E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada." (Atos 19:27). Aqueles cujo sustento dependia da adoração das divindades pagãs lançavam muitas e graves acusações contra os cristãos perante os governantes. Isto aconteceu mais especialmente nas províncias asiáticas onde o cristianismo foi mais prevalente.

Por volta do ano 110, muitos cristãos foram então levados perante o tribunal de Plínio, o Jovem, o governador de Bitínia e Ponto. Mas Plínio, sendo naturalmente um homem sábio, cândido e humano, teve o cuidado de se informar sobre os princípios e práticas dos cristãos. Quando ele descobriu que muitos deles foram condenados à morte, não tendo nada que os condenasse por qualquer crime público, ele ficou imensamente embaraçado. Ele não tinha tomado parte em tais assuntos antes, e nenhuma lei sobre o assunto existia até então. Os decretos de Nero tinham sido repelidos pelo Senado, e aqueles de Domiciano pelo seu sucessor, Nerva. Sob tais circunstâncias, Plínio buscou o conselho de seu mestre, o imperador Trajano. As cartas que eles trocaram, sendo justamente consideradas como os mais valiosos registros da historia da igreja durante aquele período, merece um lugar em nosso livro. Mas podemos apenas transcrever uma parte da celebrada epístola de Plínio, e principalmente aquelas partes que se referem ao caráter dos cristãos, e a extensão do cristianismo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O Cruel Reinado de Domiciano

Domiciano, o irmão mais novo de Tito, ascendeu ao trono em 81 d.C. No entanto, ele tinha um temperamento totalmente diferente de seu pai e de seu irmão. Estes toleravam os cristãos, mas ele os perseguia. Seu caráter era covarde, suspeitoso e cruel. Ele levantou uma perseguição contra os cristãos por causa de um certo temor vago e supersticioso que ele nutria sobre a possível aparição de uma pessoa nascida na Judeia, da família de Davi, e que deveria obter o império do mundo. Domiciano não poupou nem os romanos de nascimento da mais ilustre e alta posição que tinham abraçado o cristianismo. Alguns foram martirizados de imediato, outros foram banidos para serem martirizados no exílio. Sua própria sobrinha, Domitila, e seu primo Flávio Clemente, para quem tinha sido dada em casamento, foram vítimas de sua crueldade por terem abraçado o evangelho de Cristo. Assim vemos que o cristianismo, pelo poder de Deus, apesar de exércitos e imperadores, fogo e espada, estava se espalhando, não apenas entre os de classe média e baixa, mas também entre as classes mais altas.

"Domiciano", diz Eusébio, o pai da história eclesiástica, "tendo exercido sua crueldade contra muitos, e injustamente matando não poucos homens nobres e ilustres de Roma, e tendo, sem causa, punido um vasto número de homens honráveis com o exílio e a confiscação de suas propriedades, por fim estabeleceu a si mesmo como o sucessor de Nero em termos de ódio e hostilidade contra Deus." Ele também seguia Nero ao endeusar a si mesmo. Ele comandou que sua própria estátua fosse adorada como um deus, reviveu a lei da traição, e pôs em temeroso vigor suas terríveis provisões: sob tais circunstâncias, cercado de espiões e informantes, quão terrível deve ter sido essa segunda perseguição aos cristãos!*

{* Veja História Romana, Enciclopédia Britânica, vol. 19, página 406.}

Mas o fim desse tirano fraco, vão e desprezível se aproximava. Ele tinha o hábito de escrever em um rolo os nomes daquelas pessoas que ele destinava à morte, mantendo-o cuidadosamente aos seus próprios cuidados. E, de modo a desviar a atenção de suas futuras vítimas, ele os tratava com a mais lisonjeira atenção. Mas esse rolo fatal foi um dia tomado de debaixo de uma almofada em que ele estava dormindo por uma criança que estava brincando no apartamento, que então o levou à imperatriz. Ela foi atingida com espanto e alarme ao encontrar seu próprio nome na lista negra, juntamente com os nomes de outros que eram aparentemente elevados em seu favor. Assim, a imperatriz comunicou o conhecimento de seu perigo, e não obstante toda a precaução que a covardia e astúcia podia sugerir, ele foi expulso por dois oficiais de sua própria casa.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A Primeira Perseguição sob os Imperadores

Aqui podemos fazer uma breve pausa para contemplar o progresso do cristianismo, e o estado da igreja em Roma nessa época. Muito cedo, e sem o auxílio de qualquer apóstolo, o cristianismo tinha encontrado o seu caminho até Roma. Sem dúvida, deve ter sido primeiramente levado por alguém que tinha se convertido por meio da pregação de Pedro no dia de Pentecostes. Dentre seus ouvintes temos expressamente mencionados "forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos" (Atos 2:10). E Paulo, em sua epístola àquela igreja, dá graças a Deus "porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé" (Romanos 1:8). E em suas saudações ele fala de "Andrônico e Júnias", seus parentes e companheiros de prisão, que eram homens que se distinguiam entre os apóstolos e cuja conversão foi anterior à sua própria (Romanos 16:7). Mas grandes maravilhas tinham sido escritas pelo evangelho no decorrer de trinta anos. Os cristãos tinham se tornado um povo marcado, separado e peculiar. Eles eram agora conhecidos como perfeitamente distintos dos judeus, e amargamente negados por eles.

Os trabalhos de Paulo e seus companheiros, durante os dois anos de seu aprisionamento, eram sem dúvida abençoados pelo Senhor para a conversão de muitos; tanto que os cristãos, nesse tempo, não formavam uma comunidade secreta ou inconsiderada, mas uma que era conhecida por ter em seu meio tanto judeus quanto gentios de todas as classes e condições, desde membros da família imperial até escravos fugitivos. No entanto, seu sofrimento presente, como vimos, não era pelo cristianismo que professavam. Eles foram, na verdade, sacrificados por Nero para apaziguar a fúria popular e para se reconciliar com suas divindades ofendidas.

Essa foi a primeira perseguição oficial aos cristãos; e, por algumas de suas características, ela se destaca dentre os anais da barbaridade humana. Uma crueldade inventiva procurava novas formas de tortura para saciar o sanguinário Nero - o imperador mais cruel que já reinou. Os calmos, pacíficos e inofensivos seguidores do Senhor Jesus eram costurados nas peles de feras selvagens e rasgados por cachorros; outros eram envoltos em um tipo de roupa coberta com cera, piche e outros materiais inflamáveis, tendo uma estaca debaixo do queixo para mantê-los na vertical, sendo então incendiados quando chegava a noite, para que servissem de tochas nos jardins públicos, para divertimento dos populares. Nero emprestou seus próprios jardins para tais exibições, dando entretenimento ao povo. Ele tomava parte ativa nos próprios jogos, algumas vezes se misturando à multidão à pé, e às vezes assistindo o horrível espetáculo de sua carruagem. Mas o povo, mesmo acostumado a execuções públicas e espetáculos de gladiadores, começou a se compadecer pelas crueldades sem precedentes infligidas contra os cristãos. Eles começaram a perceber que os cristãos sofriam, não pelo bem público, mas para gratificar a crueldade de um monstro. Contudo, por mais terrível que fosse a morte, ela logo terminaria, e para os cristãos, sem dúvida, seria então o momento mais feliz de sua existência. Muito, mas muito tempo antes que as luzes se apagassem no jardim de Nero, os mártires já tinham chegado ao seu lar e descanso no florescente jardim das eternas delícias de Deus. Esta preciosa verdade aprendemos do que o Salvador disse ao ladrão arrependido na cruz - "Hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23:43).

Embora os historiadores não entrem em acordo quanto à extensão ou duração dessa terrível perseguição, há muitas boas razões para crer que ela se espalhou pelo império e durou até o fim da vida do tirano. Ele morreu por sua própria mão na mais absoluta miséria e desespero, em 68 d.C., cerca de quatro anos depois da queimada de Roma, e um ano após o martírio de Pedro e Paulo. Perto do fim de seu reinado, os cristãos eram obrigados, sob as mais pesadas penas, até mesmo de morte, a oferecer sacrifícios ao imperador e aos deuses pagãos. Embora tais decretos estivessem em vigor, a perseguição deve ter continuado.

Após a morte de Nero, a perseguição cessou, e os seguidores de Jesus desfrutaram de relativa paz até o reinado de Domiciano, um imperador que ficava só um pouco atrás de Nero em termos de maldade. Mas enquanto isso, devemos mudar de assunto por um momento e tomar nota do cumprimento de um dos avisos mais solenes do Senhor: a queda de Jerusalém.

O Incêndio de Roma

Capítulo 7: Roma e Seus Governantes (64 d.C. - 177 d.C.)

 

Como nossos dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo, sofreram o martírio durante a primeira perseguição imperial, pode ser interessante para muitos de nossos leitores saber algo sobre os elementos particulares que conduziram a esse edito cruel.

Mas aqui, embora relutantemente, devemos trocar a certeza da Palavra de Deus pelos escritos incertos dos homens. Passamos, neste momento, do firme e sólido solo da inspiração para o solo inseguro dos historiadores romanos e da historia eclesiástica. No entanto, todos os historiadores, tanto antigos quanto modernos, pagãos e cristãos, concordam quanto aos principais fatos sobre o incêndio em Roma, e sobre a perseguição aos cristãos.

No mês de julho do ano de 64 d.C. um grande incêndio irrompeu no Circo Máximo, e continuou a se espalhar até que deixou em ruínas toda a antiga grandeza da cidade imperial. As chamas se estenderam com grande rapidez, e sendo Roma uma cidade de ruas longas e estreitas, e de montes e vales, e tendo o vento ajudado o fogo a se alastrar, logo se tornou um caos generalizado. Em pouco tempo a cidade inteira parecia envolta em um mar de chamas ardentes.

Tácito, um historiador romano daqueles dias, e considerado um dos mais precisos de sua época, nos conta: "Das quatorze áreas nas quais Roma era dividida, apenas quatro permaneceram inteiras, três foram reduzidas a cinzas, e dos sete restantes restou nada mais que um monte de casas destroçadas em meio às ruínas." O fogo se alastrou furiosamente por seis dias e sete noites. Palácios, templos, monumentos, as mansões dos ricos e as habitações dos pobres pereceram nesse fogo fatal. Mas isso não era nada comparado aos sofrimentos dos habitantes. As doenças da idade, a fraqueza dos jovens, o desamparo dos doentes, os pavorosos gritos de lamentação das mulheres: tudo se somava à miséria desta cena terrível. Alguns se esforçaram para prover para si mesmos, outros para salvar seus amigos, mas nenhum lugar de segurança podia ser encontrado. Para qual caminho se virar, ou que caminho tomar, ninguém podia dizer. O fogo se alastrava por todos os lados, de modo que um grande número de pessoas caíam prostradas nas ruas, lançando-se a uma morte voluntária, e pereciam nas chamas.

A questão importante, quanto à origem do fogo, era agora discutida em todos os lugares. Quase todos acreditavam que a cidade foi queimada por incendiários, e por ordens do próprio Nero. Era certo que um número de homens foram vistos estendendo as chamas em vez de extingui-las, afirmando ousadamente que eles tinham autoridade para fazê-lo. Foi também geralmente relatado que, enquanto Roma estava em chamas, o desumano monstro Nero permaneceu em uma torre de onde podia assistir o progresso do incêndio, divertindo-se tocando "A Queda de Troia" em sua lira favorita.

Muitos de nossos leitores, sem dúvidas, devem estar se perguntando qual poderia ser o objetivo de Nero ao incendiar a maior parte de Roma. O objetivo, acreditamos, era de poder reconstruir a cidade em uma escala de maior magnificência, para então chamá-la com seu próprio nome. E ele tentou fazer isso imediatamente de maneira grandiosa. Mas tudo o que ele fez não conseguiu restabelecer-lhe o favor popular, ou remover a infame acusação de ter incendiado a cidade. E quando toda a esperança de obter o favor, tanto das pessoas quanto dos deuses, se acabou, ele partiu para o plano de passar a culpa que tinha para outros. Ele sabia bem da impopularidade dos cristãos, tanto com os judeus quanto com os pagãos, para decidir fazer deles seu bode expiatório. Um rumor logo se espalhou de que os incendiários tinham sido descobertos, e que os cristãos eram os criminosos. Muitos foram imediatamente presos para que pudessem ser levados à uma punição à altura, e para satisfazer a indignação popular. Chegamos então à primeira perseguição sob os imperadores.

domingo, 20 de dezembro de 2015

O Segundo Aprisionamento de Paulo em Roma

Alguns supõem que o apóstolo tenha sido preso em Nicópolis (onde ele pretendia passar o inverno) e dali levado prisioneiro a Roma. Outros supõem que, após invernar em Nicópolis e visitar os lugares mencionados anteriormente, ele retornou a Roma em um estado de liberdade pessoal, mas foi preso durante a perseguição de Nero e lançado na prisão.

Quanto à acusação exata que agora era feita contra o apóstolo, e pela qual ele foi preso, não temos meios de verificar com certeza. Pode ter sido simplesmente a acusação por ser um cristão. A perseguição generalizada contra os cristãos agora se enfurecia com maior severidade. Não se tratava mais sobre certas questões da lei, e ele não estava mais sob os cuidados suaves e humanos de Burrus: ele agora era tratado como um malfeitor - como um criminoso comum: "Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor" (2 Timóteo 2:9) - e muito diferente das cadeias de seu primeiro aprisionamento, quando ele morava em sua própria casa alugada.

Alexandre - que acreditamos ser de Éfeso -  evidentemente tinha algo a ver com sua prisão. Ou ele foi um de seus acusadores ou, ao menos, uma testemunha contra ele. "Alexandre, o latoeiro", ele escreve a Timóteo, "causou-me muitos males" ["exibiu muito mal de espírito contra mim"] (2 Timóteo 4:14) . Dez anos antes disso, ele tinha estado à frente como um antagonista aberto do apóstolo em Éfeso (Atos 19). Ele pode agora ter procurado vingança colocando informação contra o apóstolo perante o prefeito. O fato de ser o mesmo Alexandre de Éfeso parece claro considerando o que ele escreve a Timóteo: "Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras." (2 Timóteo 4:15)

Durante a primeira e extensa prisão de Paulo, ele estava cercado por muitos de seus mais velhos e valorados companheiros, a quem ele chama de "cooperadores" e "prisioneiros comigo". Por meio destes, seus mensageiros, embora acorrentado e preso em um único local, ele continuou em constante relação com seus amigos por todo o império, e com as igrejas dos gentios que ainda nem tinham visto sua face. Mas seu segundo aprisionamento estava em perfeito contraste com tudo isso. Ele estava longe de todos os seus companheiros de costume. Erasto ficou em Corinto, Trófimo foi deixado doente em Mileto, Tito tinha ido à Dalmácia, Crescente à Galácia, Tíquico tinha sido enviado a Éfeso, e Demas o tinha abandonado, "amando o presente século" (2 Timóteo 4:10).

O apóstolo estava agora quase que inteiramente sozinho. "Só Lucas está comigo", diz ele (2 Timóteo 4:11). Mas o Senhor pensava em Seu solitário e abandonado servo. Um feixe luminoso, a partir da fonte de amor, brilha em meio à escuridão e melancolia de sua prisão. Havia alguém fiel em meio à deserção geral, e alguém que não se envergonhava das cadeias do apóstolo. Quão peculiarmente doce e refrescante para o coração do apóstolo deve ter sido o ministério de Onesíforo naquele tempo! Nunca poderá ser esquecido. Onesíforo e sua casa - que Paulo relaciona consigo mesmo - serão guardados em memória eterna, e deverão colher o fruto de sua coragem e devoção ao apóstolo para sempre e sempre. "Estive na prisão, e foste me ver." (leia Mateus 25:31-46).

No que diz respeito às circunstâncias do julgamento de Paulo, não temos informação certa. Muito provavelmente, na primavera de 66 ou 67 d.C., Nero tomou seu lugar no tribunal, cercado por seus jurados e a guarda imperial, e Paulo foi levado à corte. Temos razões para acreditar que o espaçoso lugar se encheu de uma multidão promíscua de judeus e gentios. O apóstolo estava mais uma vez diante do mundo. Ele tinha novamente a oportunidade de proclamar a todas a nações aquilo pelo qual ele tinha sido feito prisioneiro - "e todos os gentios a ouvissem." (2 Timóteo 4:17). Imperadores e senadores, príncipes e nobres, e todos os grandes da terra, deveriam ouvir o evangelho da graça de Deus. Tudo o que o inimigo tinha feito se torna um testemunho ao nome de Jesus. Aqueles que antes eram inacessíveis ouvem o evangelho pregado com poder do alto.

Seria bastante proveitoso nos demorarmos nessa maravilhosa cena por alguns momentos. Nunca antes houve tal testemunho no pretório de Nero. A sabedoria de Deus em tornar todos os esforços do inimigo em tal testemunho é a mais profunda, enquanto Seu amor e graça no evangelho brilha inefável e igualmente para todas as classes. O próprio apóstolo comanda nossa devota admiração. Embora nesse momento seu coração estivesse quebrado pela infidelidade da igreja, ele permaneceu forte no Senhor e na força do Seu poder. Ele tinha uma oportunidade de falar de Jesus, de Sua morte e ressurreição, de modo que a multidão pagã pudesse ouvir o evangelho. Sua idade, suas fraquezas, sua forma venerável, seu braço agrilhoado, tudo isso tendia a aprofundar a impressão de sua eloquência viril e direta. Mas, felizmente, temos um relato, de sua própria pena, da primeira audiência de sua defesa. Ele escreve assim a Timóteo, imediatamente após o evento: "Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão." (2 Timóteo 4:16,17)
"Observe agora, e veja o santo escolhido de Cristo
Em triunfo usar cadeias como seu Senhor;
Nenhum temor irá desviá-lo ou abatê-lo
Sua vida é Cristo, sua morte é lucro.”

Postagens populares