Dificilmente poderia se dizer que a Reforma na Alemanha tenha começado entre as classes inferiores. Na Suíça, o movimento teve caráter democrático; na Alemanha, foi imperial. Os príncipes estiveram na linha de frente da batalha e ocuparam os primeiros assentos no conselho. “A organização democrática”, diz D’Aubigné, “foi, portanto, compelida a ceder lugar a uma organização conforme ao governo civil.” Esta é uma plena admissão de que a constituição das igrejas luteranas foi puramente humana, puramente política. Cristo como centro, e o Espírito Santo como o poder congregador em torno desse centro, são completamente ignorados. Por isso o Senhor pronuncia tais sistemas como “mortos”. Cristo, o Espírito Santo, a Palavra de Deus — todos são mencionados, e neles se crê, mas nenhum ocupa seu devido lugar nas igrejas luteranas ou reformadas: consequentemente, carecem de vitalidade. Foi especialmente entre as classes elevadas que Lutero encontrou seus apoiadores. “Ele admitiu os príncipes como representantes do povo; e, daí em diante, a influência do Estado tornou-se um dos elementos principais na constituição da igreja evangélica.”
Devemos ter sempre em mente que re-formar não é formar. A proclamação original da verdade e a formação da igreja no Pentecostes deveriam ser o guia do Reformador. Re-formar é voltar nosso pensamento ao princípio, ou à palavra e à graça de Deus, e re-formar a igreja em conformidade com Sua graça e verdade. E, certamente, se a igreja foi formada no primeiro século sem os príncipes deste mundo, não poderia ela ser re-formada sem eles no século XVI ou XIX? D’Aubigné, de forma bastante natural, faz essa pergunta, o que mostra que percebia haver uma falha séria em algum ponto; pois por que convocar um poder para re-formar a igreja que não foi necessário para formá-la no princípio? A ideia da igreja como a assembleia de Deus*, ou como o corpo de Cristo, estava agora completamente perdida. Mesmo os católicos, ainda que de forma perversa e corrompida, falam em manter a unidade da igreja. Os protestantes começaram mal nesse ponto e, desde aquele dia até agora, vêm se afastando cada vez mais da verdade acerca do “um só corpo”.
{* N. do T.: Aqui não está se referindo de forma alguma a uma denominação que possa se chamar de "assembleia de Deus", mas sim à definição bíblica de igreja como uma assembleia, principalmente no que diz respeito ao seu caráter como igreja local. }
Filipe, Landgrave de Hesse, príncipe empreendedor e magnânimo, tem a reputação de ter sido o primeiro a concluir uma constituição eclesiástica para as igrejas de seus estados hereditários, a qual foi apresentada como modelo para as novas igrejas da Cristandade.
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