Não é de modo algum certo que houvesse qualquer propósito assassino na mente do rei quando ele proferiu essas palavras precipitadas, mas aqueles ao seu redor colocaram nelas sua própria interpretação. Quatro cavaleiros, camareiros do rei, homens ferozes e belicosos, resolveram prestar o desesperado serviço. Reginaldo Fitz-Urse, Guilherme de Tracy, Hugo de Morville e Ricardo de Brito desapareceram da corte, então em Bayeux, na França. Temendo a intenção dos cavaleiros ausentes, o rei despachou, com toda a velocidade, ao conde de Mandeville ordens para prender o primaz, e de chamar de volta os quatro cavaleiros. Mas os assassinos se apressaram pelo Canal da Mancha, e antes que os mensageiros do rei pudessem alcançá-los, o arcebispo foi assassinado.
Os detalhes desse ato sombrio de derramamento de sangue são bem conhecidos e não precisam ser mencionados aqui. Mas podemos acrescentar, como bem autenticada história, que não parece que os quatro cavaleiros determinaram-se deliberadamente a assassinar o primaz sem antes se esforçarem para obter dele uma promessa de obediência ao rei e de absolvição para os bispos. Assim, eles entraram em seu quarto desarmados. Mas suas imperiosas exigências, e suas arrogantes respostas desafiadoras, despertaram as piores paixões naqueles senhores feudais, que tinham um forte senso de lealdade do súdito ao soberano. Eles ficaram furiosos, correram para fora e pediram suas armas. Os portões então se fecharam atrás deles. Demorou algum tempo antes de conseguirem entrar. Todos sabiam o que se seguiria. O arcebispo podia ter escapado mas não o faria; a vitória já era dele, e seria maior ainda se ele fosse martirizado. O sino batia para as orações de Vésperas. Ele entrou na igreja solenemente com seu báculo diante de si. O barulho de homens armados foi ouvido no claustro; os monges assustados fugiram. "Onde está o traidor?", gritou um deles, sem respostas. "Onde está o arcebispo?" "Aqui estou", ele respondeu. Novamente os cavaleiros exigiram a absolvição dos bispos e um voto de lealdade ao rei. Ele recusou. Uma briga violenta se seguiu, o que terminou em golpes, e o arcebispo foi morto no altar. Os assassinos fugiram, primeiro para Roma, para fazer penitência, e então para Jerusalém, onde, de acordo com as ordens do papa, passariam o resto de seus dias em austeridades penitenciais.
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