Como todo falso sistema, o papado é flagrantemente inconsistente consigo mesmo. A falsidade, a mãe das mentiras, está escrita em sua testa, embora possam existir muitos corações honestos e piedosos em sua comunhão. Quão diferente da perfeita unidade da verdade divina (as Escrituras)! Embora escrita por tantas pessoas diferentes, sobre tantos assuntos diferentes, sob tantas circunstâncias diferentes, e em tantos lugares e épocas diferentes do mundo, ainda assim temos um todo perfeito. Como poderíamos deixar de ver, no decorrer das Escrituras, as glórias da cruz, as riquezas da graça divina, a condição perdida do pecador, e sua plena salvação (por exemplo: no cordeiro de Abel, na arca de Noé, e na purificação do leproso)? Mas ao passarmos de um sacramento para outro do sistema católico encontramos as mais evidentes contradições. Assim é com o purgatório e a extrema unção. Se existe alguma verdade na extrema unção, o purgatório é uma mera ilusão. Não pode haver tal lugar, nem necessidade para tal lugar. O objetivo declarado, e o efeito do óleo sagrado de acordo com o Concílio de Trento, é apagar os restos dos pecados. O herege que o despreza deve ir diretamente para as profundezas do inferno. Assim ele é administrado:
"O padre, tendo entrado na casa, deve colocar sobre sua sobrepeliz uma estola coberta de violeta, e apresentar a cruz à pessoa doente, para ser devotamente beijada. Tendo sido recitadas orações, e água benta aspergida, o padre mergulha seu dedo polegar no óleo sagrado, e unge o enfermo em forma de cruz. Começando pelo sentido da visão, ele unge cada olho, dizendo: 'O Senhor, através de Sua santa unção, e Sua mais graciosa compaixão, perdoa-te de qualquer pecado que hajas cometido pela visão'. Do mesmo modo há sete unções, uma para cada um dos cinco sentidos -- olhos, ouvidos, nariz, boca, mãos, e os outros dois são no peito e nos pés". Após muitas orações, cruzes, queima do pano que enxugou o óleo das diferentes partes do corpo ungido e do polegar do padre, o homem ou mulher moribunda é declarada como estando em um estado adequado para passar com segurança para o porto da felicidade eterna.
Esse sacramento nunca é administrado enquanto houver qualquer expectativa de recuperação da saúde. É chamada extrema porque é a última a ser administrada. Por meio desse assim chamado infalível sacramento pelo moribundo, alguém naturalmente esperaria que o purgatório receberia muito poucos fiéis da igreja de Roma, de modo que seria principalmente povoado por protestantes que desprezaram o unguento sacerdotal, ou por aqueles na comunhão católica que estavam desqualificados para receberem o sacramento. Mas há uma grande variedade de opiniões entre os romanistas sobre esse assunto. Alguns pensam que toda alma, sem exceção, desde o papa até o leigo, por mais santa que tenha sido sua vida, ou mesmo que o último sacramento tenha sido administrado, deve passar pelo purgatório -- que nenhuma alma poderia passar diretamente da terra para o céu. Eles argumentam que, como nenhum homem tem controle completo sobre seus pensamentos, pensamentos tolos e até mesmo pecaminosos podem passar por sua mente durante a administração da extrema unção, ou imediatamente após ela; portanto, a alma deveria passar pela região do purgatório em seu caminho para o céu. É claro que o pecado poderia ser tão pequeno de modo que a detenção seria muito curta. Mas até mesmo um Gregório ou um Bernardo deveria ser purificado pelo fogo do purgatório. Ai dos filhos de Roma! -- deveríamos exclamar -- todos devem ser escravos do príncipe do purgatório antes de poderem provar da liberdade e felicidade do céu. Quão terríveis, quão sombrios os pensamentos sobre a morte devem ser! Quão diferentes dos pensamentos e sentimentos do grande apóstolo, quando disse: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho". Se ele vivesse, viveria Cristo; ele desfrutava a mais plena e doce comunhão com Ele: se morresse, ele ganharia com isso... "Tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor". Além disso, a Palavra de Deus é positiva para todos os crentes em Cristo Jesus -- "Ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor" (Filipenses 1:21-23; 2 Coríntios 5:8).
A alusão no Novo Testamento à antiga prática da unção com óleo deu aos escritores católicos grande ousadia em pressionar a necessidade desse sacramento. Mas eles cuidadosamente negligenciam ou ocultam o fato de que a unção bíblica era para a cura miraculosa do corpo e para o prolongamento dos dias de vida. A unção católica é para a alma -- um sacramento permanente para a transmissão da graça, o perdão do pecado, a obtenção da salvação, na hora da morte. A unção apostólica era para a recuperação da saúde; a extrema unção é a última preparação para a morte. "E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam". "Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará." (Marcos 6:13; Tiago 5:14,15).
Não é difícil ver como a superstição usaria tais passagens para o cumprimento de seus próprios fins; mas está perfeitamente claro que a unção original era usada para a recuperação da saúde em pessoas específicas, e continuou enquanto ainda havia o dom de curas e o poder de operar milagres, o que provavelmente mal durou até o final da era apostólica. E a extrema unção, em sua presente forma, era desconhecida na igreja durante os primeiros onze séculos de sua história. Foi estabelecida durante o reinado da ignorância e da astúcia sacerdotal no século XII, e finalmente foi carimbada com o grande selo do Concílio de Trento.
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