Tentar enumerar todas as adições feitas às observâncias externas da religião seria de pouco proveito. Muitos novos ritos, cerimônias, usos, feriados e festivais foram acrescentados de tempos em tempos, tanto publicamente pelos pontífices quanto privativamente pelos padres. Mas nenhuma invenção sacerdotal jamais abriu tal caminho, ou produziu tamanho efeito sobre a mente popular, como a transubstanciação. O dogma não aparece em lugar algum dos escritos dos Pais da igreja, nem dos gregos ortodoxos nem dos latinos católicos. O primeiro traço disso é encontrado no século VIII. No século IX, um período de grandes trevas, o monge Pascásio parece ter dado forma e definição à monstruosa superstição. No século XI, foi fortemente contestada por Berengário de Tours, a habilmente defendida por Anselmo da Cantuária. Continuou sendo um assunto de contenda entre os doutores da igreja até o quarto Concílio de Latrão, que aconteceu no ano de 1215. Foi então colocada entre as doutrinas estabelecidas da igreja de Roma. Por meio de um cânon daquele concílio, foi afirmado que, quando o padre profere as palavras da consagração, os elementos sacramentais do pão e do vinho são convertidos na substância do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. "O corpo e o sangue de Cristo", dizem, "estão realmente contidos no sacramento do altar sob os elementos do pão e do vinho; o pão sendo transubstanciado no corpo de Jesus Cristo, e o vinho em Seu sangue, pelo poder de Deus, através do padre. A mudança assim efetuada é declarada como tão perfeita e completa que os elementos contêm a totalidade de Cristo -- a divindade, a humanidade, a alma, o corpo e o sangue, com todas as suas partes componentes"*.
{* Faiths of the World, de Gardner, vol. 2, p. 905. Veja também um interessante ensaio sobre o assunto em Variations of Popery, de Edgar, pp. 347-388.}
Desde esse período, o pão consagrado da Eucaristia passou a receber honras divinas. Importantes mudanças também foram introduzidas, por volta da mesma época, no modo de se administrar o sacramento. O vinho consagrado, dizia-se, corria o risco de ser profanado pela barba de quem tomava do cálice, pelos doentes que não fossem capazes de engoli-lo, e pelas crianças sendo propensas a derramá-lo. Assim, a taça foi retirada dos leigos e dos doentes, e a comunhão infantil foi completamente interrompida, pelo menos pelos latinos (católicos): os gregos (ortodoxos) a retiveram e até hoje a praticam.
As mais terríveis superstições naturalmente seguiram-se ao estabelecimento da doutrina da transubstanciação. Em determinado momento da missa, o padre eleva a hóstia consagrada -- um pequeno biscoito feito de farinha e água -- e no mesmo instante o povo cai prostrado diante dela. Em algumas ocasiões, a hóstia é colocada em um belo recipiente e carregada em solene procissão através das ruas, e cada indivíduo, enquanto o recipiente passa por ele(a), curva o joelho em sinal de adoração. Na Espanha, quando o padre leva a hóstia consagrada até uma pessoa que supõe-se estar morrendo, ele é acompanhado por um homem que toca um pequeno sino; e, ao som do sino, todos os que o ouvirem são obrigados a cair de joelhos e permanecerem nessa postura enquanto ouvirem seu barulho. Os padres fazem o povo crer que o Deus vivo, na forma do pão, reside naquele recipiente, e que assim Deus pode ser levado de um lado para o outro. Certamente, esta é a consumação de toda a iniquidade, idolatria e blasfêmia, e a exposição de tudo o que é sagrado ao ridículo do profano. Tais coisas foram concebidas e embaladas em um tempo de grande ignorância, depravação e superstição.
Tal era, e ainda é, a ousada iniquidade do sacerdócio papista; tal é a miserável cegueira da igreja romana! Ainda assim, Deus já suportou isso por mais de mil anos; mas um dia de julgamento virá em que Ele há de julgar os segredos dos corações dos homens, não pelo padrão de um ritual romano, mas pelo evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor. "Porque está escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, e toda a língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus." (Romanos 14:11,12)
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