Se não fosse por uma circunstância que consideramos puramente infantil, o encontro entre Adriano e Frederico poderia ter passado sem tomarmos nota, de tão pouca relevância que isso tem para a história da igreja. No entanto, o acontecimento tem relevância ao considerarmos a história do papado, e pensamos ser correto observarmos tudo aquilo que manifesta seu verdadeiro espírito no período de Tiatira. Além disso, o mais insignificante incidente revela, às vezes, o propósito mais profundamente arraigado e a mais inflexível determinação.
A pronta concessão do sangue de Arnaldo não tinha removido da mente sombria de Adriano todas as suspeitas quanto às intenções de Frederico. As negociações, no entanto, foram satisfatórias, e Adriano cavalgou até o acampamento de Frederico. Ele foi gentilmente recebido por alguns dos nobres alemães e conduzido à tenda real. O papa permaneceu em seu cavalo, esperando que o imperador viesse e segurasse seu estribo enquanto desmontava. Mas sua espera foi em vão; Frederico não o fez, e o papa desceu sem sua ajuda. Essa falta de homenagem ao supremo pontífice foi considerada um grande insulto e indicativo de hostilidades. A maioria dos cardeais fugiram alarmados, mas o intrépido Nicolas Breakspeare (Adriano) permaneceu. Frederico alegou ignorância do costume, mas o papa recusou se reconciliar ou dar-lhe o beijo de paz até que ele se humilhasse e passasse pela cerimônia. O arrogante alemão disse que consultaria seus nobres. Uma longa discussão se seguiu. Adriano manteve que aquilo era um costume desde os dias de Constantino, o Grande, que segurava o estribo do papa Silvestre. Essa afirmação era totalmente falsa, pois o primeiro ato de tal homenagem tinha ocorrido cerca de cinquenta anos antes, por Conrado III, o inútil e rebelde filho de Henrique IV. Mas esse era uma questão de pouca importância para o partido papal, desde que o imperador fosse humilhado e o papa exaltado. Alegados precedentes eram produzidos de modo a provar que a prática tinha existido por oitocentos anos; e, consequentemente, "como o imperador tinha se negado às honrarias devidas aos apóstolos Pedro e Paulo, não poderia haver paz entre a igreja e o império até que ele cumprisse esse dever ao pé da letra". Tal era a blasfema suposição desses homens perversos. Eles instavam suas pretensões de homenagem por parte da humanidade ao representarem-se como estando no lugar dos apóstolos -- e de Cristo -- do próprio Deus. Como as evidências pareciam estar a favor do papa e Frederico não se importava muito com o assunto, ele se deixou persuadir de que os precedentes eram verdadeiros, e que devia prestar homenagem ao papa. Assim, no dia seguinte, como um filho obediente da igreja, o imperador desmontou do cavalo quando Adriano se aproximou, pegou o freio e segurou o estribo para o papa desmontar. A amizade exterior estava agora restaurada, e o pai espiritual e filho obsequioso avançaram em direção à cidade santa (Roma) e prosseguiram com a coroação.
Após um reinado de cerca de quatro anos, e, podemos acrescentar, de conflitos incessantes e derramamento de sangue, Adriano morreu em 1159. Ele se preparava para uma declaração aberta de guerra e para a excomunhão do imperador, quando a morte pôs um fim ao conflito. Assim a maioria desses homens viveram e assim morreram, em guerra declarada com o poder secular. Frederico Barbarossa é conhecido como o mais poderoso soberano que reinou na Europa desde Carlos Magno. Ele entrou para a terceira Cruzada, como já vimos, em 1189, e morreu, ou foi afogado, nas correntezas do rio Salepe, próximo a Tarso, em 1190.
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