Embora Arnaldo tenha sido um discípulo e um fiel seguidor de Abelardo, é evidente, a partir de todas as informações que podemos reunir sobre ele, que foi um homem de outra ordem. Há motivos para crer que ele tenha sido um cristão sincero, e possuía muitos dos elementos de um reformador, embora em uma época imatura para a reforma. Além disso, ele era político demais -- um grande admirador da velha República Romana -- para ser usado por Deus no estabelecimento de uma fundação sólida para a reforma da igreja. Ele foi honrado com o martírio, mas foi mais por sua defesa da liberdade civil do que por sua sujeição à pregação de Cristo e à Palavra de Deus. No entanto, ele merece nosso respeito e gratidão como um semeador precoce das sementes da grande Reforma.
Arnaldo nasceu em Bréscia, na Lombardia -- provavelmente por volta do ano 1105. Em um período inicial de sua sua história ele se separou do clero secular, abraçou a vida monástica, e começou a pregar insensivelmente contra as corrupções, tanto do clero quanto dos monges. Ele parece ter sido possuído por uma convicção interior de que tinha uma comissão divina de pregar contra o orgulho, a luxúria e a imortalidade do sacerdócio, do próprio papa até a classe mais baixa na igreja; e a essa missão ele ousada e destemidamente devotou todas as suas forças. Possuído, de acordo com todos os relatos, do mais vigoroso e desperto estilo de discurso, combinado com uma eloquência que era particularmente copiosa e fluída, ele poderosamente movia as massas para onde quer que pregasse. "Suas palavras", disse Bernardo, "são mais suaves que o azeite e mais afiadas do que a espada". Sua grande ideia era a completa separação da igreja e do Estado. O velho edifício papal -- a hierarquia que tinha se elevado a tais vastas proporções desde os dias de Constantino, e que, sob a ideologia de Gregório VII, aspirava o governo de todo o mundo, e a vinculação de todas as nações da Terra como feudos de São Pedro -- ele ousadamente manteve que deveria ser totalmente demolido e varrido da face da Terra. Ele usava, assim como muitos desde então, e embora sem conhecer sua importância espiritual, o mote: "Meu reino não é deste mundo". Ministros do evangelho, argumentava ele, não deveriam ter qualquer poder além do governo espiritual do rebanho de Cristo, e quaisquer riquezas além dos dízimos e ofertas voluntárias dos fiéis. Os imensos males e discórdias que surgiram na igreja, afirmava ele, eram principalmente devidos às vastas riquezas do pontífice, bispos e padres.
Embora houvesse uma grande medida de verdade em muito do que ele dizia, ele misturou, da maneira mais dolorosa, seu amor à velha liberdade romana à humilde religião de Jesus -- misturou o rígido monge ao feroz republicano. "Se a pobreza era uma característica de Cristo", ele exclamava, "se a pobreza era uma característica de Seus apóstolos, se a única semelhança viva e real dos apóstolos e de Cristo são os monges famintos e mal vestidos, com suas faces afundadas pela fome, seus olhos cabisbaixos, quão longe de Cristo são aqueles bispos principescos, aqueles altivos abades, com seus mantos de pele escarlata e púrpura, que montam em seus curvos palafréns, com seus adereços de ouro, suas esporas de prata, e segurando seus báculos como reis!" Consistentemente com isso, ele também ensinava ao povo "que o soberano secular é a verdadeira fonte de honra, de riqueza, de poder, e para essa fonte deveriam ser revertidas todas as posses da igreja, as propriedades dos mosteiros, as realezas dos papas e dos bispos."*
{*Latin Christianity, vol. 3, p. 333.}
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