Muitas e variadas são as opiniões dos historiadores quanto à origem, caráter e efeitos das cruzadas. Mas que elas tiveram uma imensa influência no curso dos assuntos humanos, especialmente na Europa e na Ásia, isto todos concordam. Elas foram os meios, sob a providência de Deus, pelos quais foi modificada toda a estrutura da sociedade neste* e em outros países. Do servo ao soberano, todos experimentaram uma grande mudança. A condição social do servo e do vassalo aumentou, o número e poder dos senhores feudais diminuiu, e a força dos soberanos aumentou. Pelos mesmos meios o comércio melhorou muito, e os barões não foram nem um pouco empobrecidos. Muitos deles hipotecaram suas propriedades para cidadão ricos, o que, com o tempo, levou ao estabelecimento do terceiro estamento** no reino -- os comuns. As liberdades da Europa, tanto civis quanto religiosas, tiveram sua ascensão nessa classe social.
{* N. do T.: o autor vivia na Inglaterra. }
{** N. do T.: estamento é uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja, possui maior mobilidade social que no sistema de castas, e menor mobilidade social do que no sistema de classes sociais. Os estamentos caracterizaram a sociedade feudal durante a Idade Média. Fonte: Wikipédia. }
Mas o papado foi o principal beneficiado pelas cruzadas. Um vasto aumento de poder, influência e riqueza para o papa, o clero e as instituições monásticas, foi o resultado imediato. Tudo isto era o único grande objetivo da política papal. Aquilo pelo que Hildebrando lutava e via no horizonte, Urbano agarrou e usou com grande astúcia e poder. E essa supremacia ele obteve por meios aparentemente bons e santos, mas verdadeiramente muito sutis e satânicos. A teoria era esta: "o cruzado era o soldado da igreja, e a esta devia submissão acima de tudo, tendo o libertado de todas as outras submissões". Nunca houve uma teoria mais ampla, niveladora e injusta proposta à humanidade. Mas, em sua aparente piedade, encontra sua profunda sutileza.
Quando Urbano colocou-se à frente dos exércitos da fé em 1095, ele assumiu ser o diretor de seus movimentos, o dispenseiro de suas bênçãos, e seu infalível conselheiro e legislador. Ele pregou que esta não era uma guerra nacional da Itália, França ou Alemanha, contra o império do Egito, mas uma guerra santa de cristãos contra muçulmanos. Nenhum cristão deveria guerrear contra outro cristão, mas todos deveriam se unir em uma aliança santa contra um inimigo em comum -- os infiéis. Os privilégios prometidos a todos os soldados de Cristo eram grandes e muitos, como pode ser visto pelo discurso de Urbano. Eles foram assegurados da imediata remissão de todos os seus pecados, do paraíso de Deus, se caíssem na batalha, ou se morressem no caminho até a Terra Santa; e ainda, quanto a esta vida, o papa declarou que todas as obrigações temporais, civis e sociais seriam dissolvidas aos que tomassem a cruz. Assim, cada fio que ligava a sociedade foi quebrado, um novo princípio de obediência foi estabelecido, e o papa tornou-se o senhor feudal da humanidade.*
{* Milman, Latin Christianity, vol. 3, p. 242.}
{* N. do T.: o autor vivia na Inglaterra. }
{** N. do T.: estamento é uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja, possui maior mobilidade social que no sistema de castas, e menor mobilidade social do que no sistema de classes sociais. Os estamentos caracterizaram a sociedade feudal durante a Idade Média. Fonte: Wikipédia. }
Mas o papado foi o principal beneficiado pelas cruzadas. Um vasto aumento de poder, influência e riqueza para o papa, o clero e as instituições monásticas, foi o resultado imediato. Tudo isto era o único grande objetivo da política papal. Aquilo pelo que Hildebrando lutava e via no horizonte, Urbano agarrou e usou com grande astúcia e poder. E essa supremacia ele obteve por meios aparentemente bons e santos, mas verdadeiramente muito sutis e satânicos. A teoria era esta: "o cruzado era o soldado da igreja, e a esta devia submissão acima de tudo, tendo o libertado de todas as outras submissões". Nunca houve uma teoria mais ampla, niveladora e injusta proposta à humanidade. Mas, em sua aparente piedade, encontra sua profunda sutileza.
Quando Urbano colocou-se à frente dos exércitos da fé em 1095, ele assumiu ser o diretor de seus movimentos, o dispenseiro de suas bênçãos, e seu infalível conselheiro e legislador. Ele pregou que esta não era uma guerra nacional da Itália, França ou Alemanha, contra o império do Egito, mas uma guerra santa de cristãos contra muçulmanos. Nenhum cristão deveria guerrear contra outro cristão, mas todos deveriam se unir em uma aliança santa contra um inimigo em comum -- os infiéis. Os privilégios prometidos a todos os soldados de Cristo eram grandes e muitos, como pode ser visto pelo discurso de Urbano. Eles foram assegurados da imediata remissão de todos os seus pecados, do paraíso de Deus, se caíssem na batalha, ou se morressem no caminho até a Terra Santa; e ainda, quanto a esta vida, o papa declarou que todas as obrigações temporais, civis e sociais seriam dissolvidas aos que tomassem a cruz. Assim, cada fio que ligava a sociedade foi quebrado, um novo princípio de obediência foi estabelecido, e o papa tornou-se o senhor feudal da humanidade.*
{* Milman, Latin Christianity, vol. 3, p. 242.}
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