domingo, 8 de março de 2020

A Inquisição Estabelecida em Languedoque

Capítulo 26: A Ordem Monástica (480-1275 d.C.)


Pelo tratado de Paris, em 1229 d.C., a guerra aberta contra o povo de Languedoque chegou ao fim, mas a Inquisição continuou sua cruzada secreta e nem um pouco menos destrutiva. Não bastava que a traição de Arnaldo e a espada de Monforte exterminassem esses hereges; medidas tinham de ser tomadas para evitar que eles reaparecessem novamente. Domingos e seus associados, embora não os tenhamos visto no cerco ou na batalha, estavam fazendo seu terrível trabalho às escondidas. Mas chegara o tempo em que a Inquisição seria canonizada. Em um Concílio realizado em Toulouse em novembro de 1229, foi ordenado que uma Inquisição permanente fosse estabelecida contra os hereges. Um dos cânones revela indiretamente a raiz dessa ira de Satanás, demonstrando a grande honra do nome dos albigenses e lançando uma profunda mancha de culpa sobre o nome de seus perseguidores. Foi descoberto, pelos missionários inquisitoriais, que a Bíblia era a principal fonte das opiniões dos albigenses; portanto, para impedir que o povo a lesse, o Concílio aprovou o seguinte decreto: "Proibimos os livros do Antigo e do Novo Testamento aos leigos; a menos que, talvez, eles desejem ter o Saltério, o Breviário ou as Horas da bem-aventurada Virgem Maria; mas proibimos expressamente que as outras partes da Bíblia sejam traduzidas para a língua vulgar". As escrituras já haviam sido escondidas dos leigos muito tempo antes, mas esta é a primeira proibição direta com a qual nos deparamos.

A interpretação papal desse cânone, ou justificativa de sua severidade, dará ao leitor uma justa amostra de como o clero citava e aplicava as escrituras naqueles dias. "Se até um animal tocar o monte será apedrejado ou passado com um dardo" (Hebreus 12:20). Essa passagem era ensinada como se as pessoas fossem como animais por causa de sua ignorância, a palavra de Deus fosse como uma montanha e, se ousassem tocá-la, seriam mortas instantaneamente. Inocêncio era familiarizado com as Escrituras e as utilizou amplamente, seguindo esse estilo em suas cartas e decretos; mas as palavras divinas, apesar de mal aplicadas, tinham um imenso poder sobre a mente ignorante. Um dos grandes objetivos da Inquisição era manter as pessoas em total escuridão quanto à mente divina sobre assuntos espirituais, para que o poder do clero -- ou melhor, o poder de Satanás, o príncipe das trevas -- pudesse permanecer inquestionável e absoluto. Não somente todo o ensino público das Escrituras foi suprimido pelo Concílio de Toulouse, como também a liberdade de pensamento em segredo era condenada sob as mais severas penalidades. Seria difícil conceber uma impiedade tão ousada: reter a palavra da vida, fazer o povo perecer e tornar a posse dela um crime capital. Isso é certamente o auge da inimizade diabólica contra Cristo e contra as almas preciosas das pessoas. E esses eram os professos pastores das ovelhas, que juraram liderá-las pelos pastos verdejantes e pelas águas tranquilas. Mas não devemos permanecer no assunto com o intuito de alimentar nossa indignação, embora seja difícil continuar sem expressar tal indignação que se eleva no coração contra esse tipo de iniquidade espiritual. Mas, sabendo que a justa sentença deles está com o Deus vivo, podemos reter a nossa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares