Simão de Monforte, como senhor feudal do Viscondado de Béziers e Carcassona, foi obrigado, por seu mandato eclesiástico, a extirpar os hereges. Ele, portanto, continuou sua campanha; muitas cidades e castelos caíram em suas mãos, alguns pela força, outros pelo pânico. Na diocese de Albi, sede principal daquelas doutrinas condenadas, a guerra foi conduzida com a mais selvagem crueldade. Quando La Minerve, perto de Narbona, após uma defesa obstinada, se rendeu, alguém em cujo coração ainda restava uma centelha de humanidade propôs que fosse permitido que os vencidos fossem deixados livres caso desistissem de sua heresia; mas termos tão brandos foram contestados pelos monges impiedosos. "Os termos são fáceis demais", exclamaram, "viemos para extirpar hereges, não para lhes mostrar favor!" "Não tenhais medo", respondeu o abade em uma zombaria cruel, "não haverá muitos convertidos". E ele estava certo, mas não no sentido em que falava. Sua intenção era matar todos eles; mas a intenção dos albigenses, ou melhor, o firme propósito que tinham, era aceitar a morte em vez dos termos papais. Enquanto isso, os albigenses se reuniram para orar. O abade de Vaux-Cernay encontrou várias mulheres cristãs em uma casa, silenciosamente envolvidas em oração, e esperando o pior que poderia lhes acontecer. Elas não esperavam piedade desses "santos padres", e estavam preparadas para morrer. Ele também encontrou vários homens de joelhos em outra casa, aguardando pacificamente seu fim. O abade começou a pregar-lhes as doutrinas do papado, mas, em uma só voz, eles o interromperam, e todos exclamaram: "Não queremos nada da sua fé; renunciamos à igreja de Roma, seu trabalho é em vão, pois nem a morte nem a vida nos farão renunciar à verdade que possuímos". Pediu-se que De Monforte falasse com eles. Ele visitou homens e mulheres, ao todo cento e quarenta. "Convertam-se à fé católica", disse ele, "ou subam nessa fogueira". Ele já havia ordenado que uma enorme pilha de madeira seca fosse amontoada. Nenhum dos albigenses vacilou por sequer um momento. Eles negaram a supremacia do papa e a autoridade do sacerdócio; eles não possuíam qualquer cabeça (chefe) senão Cristo, e nenhuma autoridade além de Sua santa Palavra. Irritado de raiva pela constância e calma firmeza deles, ele ordenou que o fogo fosse aceso, e a pilha logo se tornou um monte de chamas. Os destemidos confessores do nome de Jesus, entregando suas almas em Suas mãos, correram voluntariamente para as chamas, como se subissem ao céu em uma carruagem de fogo.
Quando o castelo chamado Brau se rendeu, De Monforte arrancou os olhos de mais de cem dentre os defensores e vergonhosamente mutilou os demais, deixando um deles com um olho para que pudesse guiar o resto para fora. Disse o abade de Vaux-Cernay que o conde não se deleitava com tais coisas, "pois dentre todos os homens ele era o mais brando", mas fazia essas coisas porque desejava retaliar o inimigo. Tal foi o julgamento do monge historiador. Em Lavaur, a cidade do bom Roger Bernardo, conde de Foix, as barbáries superaram todas as precedentes, até mesmo as dessa terrível guerra. O conde é tido pelos valdenses como sendo um deles. "De todos os príncipes provinciais", diz Milman, "o conde de Foix era o mais poderoso e o mais detestado pela Igreja como favorecedor de hereges. Nesse caso, a acusação era mais uma honra do que uma calúnia. Ele era um homem profundamente religioso, o primeiro a elevar seu estandarte contra De Monforte, e foi um cavaleiro de valor, representando a fé cristã ". Por fim, a cidade caiu nas mãos dos sitiantes; um massacre geral foi permitido; homens, mulheres e crianças foram esquartejados, até que não restasse nada para matar, exceto alguns da guarnição e outros reservados para um destino mais cruel. Quatrocentos foram queimados em uma grande pilha, o que causou uma grande alegria no acampamento inimigo. E em meio a todo esse tumulto, em diabólica crueldade, os bispos e legados cantavam: "Vem, Espírito Santo". Foi aqui que o senhor Almerico, com oitenta nobres, foi levado diante de De Monforte, que ordenou que fossem enforcados, como já vimos. A piedosa dona Geralda também sofreu aqui, uma mulher de quem se diz: "Nenhum homem pobre jamais saiu de sua porta sem ser alimentado".*
{*Latin Christianity, vol. 4, p. 223; Gardner's Faiths of the World, "Albigenses."}
Nenhum comentário:
Postar um comentário