Quando Valdo fugiu, seus discípulos o seguiram. A dispersão aconteceu de modo similar à que surgiu por ocasião da perseguição de Estêvão. Os efeitos também foram similares: o bendito evangelho acabou sendo ainda mais amplamente disseminado por toda a Europa. O maior poder deles era a posse das Escrituras Sagradas em sua própria língua. Eles liam os Evangelhos; eles pregavam e oravam na língua popular. Muitos deles, sem dúvida, chegaram aos vales de Piemonte e às cidades de Languedoque. Uma nova tradução da Bíblia era, sem dúvida, uma rica adesão aos tesouros espirituais daquele interessante povo.
A cena estava então pronta para o papa Inocêncio III: as ameaças papais, tendo sido transmitidas por sua vigorosa mão, foram executadas com uma mente disposta e implacável. Ele, que tinha humilhado os grandes reis da Alemanha, França e Inglaterra, e que tinha recebido submissão implícita de quase todas as partes da Cristandade, ainda era renegado como o supremo chefe da igreja pelos valdenses, onde quer que fossem achados. Dificilmente um espírito como o de Inocêncio continuaria a suportar com calma essa resistência a sua vangloriada supremacia universal. Mas qual era o crime deles? Onde eles poderiam ser encontrados? E como eles deveriam ser tratados?
1. Eles tinham a mais alta reputação em todos os lugares, até mesmo por parte de seus piores inimigos, por sua modéstia, simplicidade, honestidade, castidade e temperança. "Em nenhum caso", diz uma alta autoridade que não era muito favorável aos que ele chamava de anti-sacerdotalistas, "a moral e os costumes de Pedro Valdo e dos Cristão Bíblicos Alpinos podiam ser arranhados por seus mais amargos inimigos". O "pecado mortal" deles vinha do apelo que faziam às Escrituras, e somente às Escrituras, em todos os assuntos de fé e adoração. Eles rejeitavam o vasto sistema da tradição-religião mantido pela igreja de Roma. Tanto em vida quanto em doutrina eles eram nobres testemunhas de Cristo e da simplicidade do evangelho; mas isso acabava se constituindo como um poderoso protesto contra a riqueza, o poder e as superstições da religião dominante. Eles rejeitavam os quase inumeráveis sacramentos de Roma, e mantinham a posição de que havia só dois deles no Novo Testamento -- o batismo e a ceia do Senhor. Em geral, podemos dizer que eles anteciparam e defenderam as mesmas doutrinas que, após um lapso de três séculos, seriam promulgados pelos reformadores da Alemanha e da Inglaterra, e que constituem o credo dos protestantes na atualidade.
2. O progresso dos "homens pobres de Lyon", após a perseguição deles, parece ter sido rápido e amplamente estendido. Dizem que eles se espalharam pelo sul da França, para a Lombardia e Aragon. "Em Lombardia e Provença", diz Robertson, "os valdenses tinham mais escolas do que os católicos; seus pregadores disputavam e ensinavam publicamente, enquanto o número e a importância dos patronos que os protegiam fizeram com que fosse perigoso interferir no trabalho deles. Na Alemanha, eles tinham quarenta e uma escolas na diocese de Passau, e eram numerosos nas dioceses de Metz e Toul. Da Inglaterra ao sul da Itália, desde Helesponto até o Ebro, suas opiniões eram amplamente difundidas."*
{* J.C. Robertson, vol. 3, pp. 179-202. Waddington, vol. 2, p. 187. History of France de Sir. J. Stephen, vol. 1, p. 218.}
3. Tal era o estado de coisas quando o papa Inocente III subiu ao trono papal. Com pressentimentos ansiosos e um olho de águia, ele observava esse espírito de independência religiosa, mas a questão era como ele poderia efetivamente esmagá-lo. Além disso, nessa época, como o leitor se lembrará, suas mãos estavam cheias. Ele estivera buscando destruir o equilíbrio de poder na Alemanha e na Itália, contendia com os reis da França e da Inglaterra, dirigia a marcha dos cruzados, e derrubava, por meio deles, o império grego em Constantinopla; mesmo assim ele ficou observando, e se determinou a punir cada dissidência dos dogmas da igreja de Roma e cada exercício da faculdade de pensamento de seus súditos religiosos. Havia altos rumores, por volta dessa época, de que os dois principais focos de desafeto em relação a Roma vinham dos vales de Piemonte e do sul da França. Os cristãos piemonteses floresceram na obscuridade, enquanto os albigenses se tornaram mais notórios, assim como mais perigosos, por causa da proteção que conseguiram nas ricas cidades de Languedoque. Raimundo VI, conde de Toulouse, não apenas favorecia aqueles que eram do credo valdense, considerando-os seus melhores súditos, como também os empregava em sua família, embora declaradamente fosse católico romano. O conde de Foix casou-se com uma valdense e, de suas duas irmãs, uma dizia ser valdense, e a outra catarista, ou puritana.
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