Para aqueles que estão familiarizados com o espírito e temperamento da era medieval, essas crenças sem fundamento não são motivo de surpresa; mas para aqueles que estão familiarizados apenas com a época em que vivemos pode parecer estranho que as pessoas pudessem ser tão fracas para acreditar nessas coisas*. E se não fosse por seu valor histórico não acharíamos essas coisas dignas de serem transcritas. Mas essas coisas mostram, como nada mais pode, os modos de pensamento e a medida do desenvolvimento mental do homem na época, e sobre esse terreno podemos entender e explicar porque tais histórias tolas e ficções absurdas eram recebidas como a presente revelação de Deus. O resultado foi, como Satanás pretendia até mesmo no caso de verdadeiros cristãos, que a Palavra de Deus, que é o único padrão de fé e prática, fosse completamente deixada de lado, e as mentiras dos enganadores cridas. Um homem bom e talentoso, como Bernardo deve ter sido, estava profundamente imbuído da credulidade supersticiosa de sua época. Ele acreditava, juntamente com outros, que Deus tinha realizado milagres através dele. Mas todos os homens no século XII, e por vários séculos, tanto antes como depois, criam em milagres, visões, revelações, e na interferência tanto de anjos bons quanto de maus em coisas terrenas.
{* N. do T.: Este livro foi escrito no século XIX. Hoje em dia, não é incomum vermos novamente multidões crendo em "fábulas profanas", como foi profetizado sobre os "últimos tempos" (1 Timóteo 4:1,7). }
O efeito do sistema monástico sobre o povo em geral na idade das trevas é devido à prontidão deles em crer em qualquer coisa que um monge dizia, especialmente quando se tratava sobre o bem ou o mal, o céu ou o inferno. Os sinos prateados dos conventos constantemente lembravam o senhor feudal e seus vassalos da ocupação celestial dos monges, o que, para suas mentes supersticiosas, devia surtir um grande efeito. E não é de se admirar. Ali no vale solitário, em meio ao isolamento da natureza, ficava o mosteiro santo. O príncipe, o camponês e o indigente podiam bater em seus portões e encontrar abrigo dentro de suas paredes sagradas. A paz era prometida nesta vida a todos que entrassem, e o céu após a morte. O coro de canções de vigílias e matinas durante a noite devia apelar para os sentimentos religiosos de todos ao redor, e enchia-os da mais santa admiração e reverência por essas pessoas celestiais. Por isso, o mosteiro era considerado o portão do céu, e todos os seus internos como servos do Altíssimo. Era, sem dúvida, uma grande misericórdia naquela época para o pobre, e para o povo em geral, especialmente durante o reinado do feudalismo.
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