Justamente neste período, o Senhor estava fazendo "todas as coisas cooperarem para o bem" de uma forma notável. Dois agentes silenciosos de imensa influência e poder foram ordenados para preceder as vozes vivas de Seus pregadores do evangelho -- a invenção da prensa* e da manufatura de papel. Essas invenções harmoniosas foram levadas a grande perfeição durante a última metade do século XV, pelas quais podemos elevar nossos corações em louvor e gratidão a Deus.
{*N. do T.: Leia mais sobre a prensa de Gutenberg em https://pt.wikipedia.org/wiki/Prensa_m%C3%B3vel }
Chegamos agora a um ponto decisivo em
nossa história; e não apenas na história da Igreja, mas da civilização, da
condição social dos Estados europeus e da família humana. É bom parar em tal
eminência e olhar ao nosso redor por um momento. Vemos uma mão divina para o
bem de todos juntando as peças, embora estivessem aparentemente desconectadas.
A queda de um império, a fuga de alguns gregos com seus tesouros literários, o
despertar da mente há muito adormecida do mundo ocidental, a invenção da
impressão de tipos móveis* e a descoberta da manufatura de papel branco fino
com trapos de linho. Por mais incongruente que "trapos de linho"
possa soar com a literatura dos gregos e com a habilidade de Guttenberg, ambos
teriam se mostrado de pouca utilidade sem o papel melhorado. Os meios, os mais
insignificantes na conta do homem, quando usados por Deus, são todos
suficientes. Por um poder milagroso, uma vara seca na mão de Moisés sacode o
Egito do centro à circunferência, divide o Mar Vermelho e tira água viva da
rocha dura: uma pedra lisa do riacho, ou um chifre de carneiro vazio, realiza
grandes livramentos em Israel. O poder é de Deus e a fé olha apenas para Ele.
{*N. do T.: Tipos são os moldes de caracteres
letras usadas em uma prensa, isto é, em uma máquina de impressão antiga. Veja
mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Tipo_(tipografia). }
É um fato profundamente interessante
para o cristão que o primeiro livro completo que Gutenberg imprimiu com seus
tipos de metal lapidado foi uma edição in-fólio da Bíblia na vulgata latina,
consistindo de seiscentos e quarenta e uma folhas. Hallam, em sua História
Literária, observa belamente: "É uma circunstância muito surpreendente que
os inventores da grande arte tenham tentado desde o início um voo tão ousado
como imprimir uma Bíblia inteira, e o executaram com grande sucesso... Podemos
ver na imaginação este volume venerável e esplêndido conduzindo as miríades de
seus seguidores e implorando, por assim dizer, uma bênção sobre a nova arte, ao
dedicar suas primícias ao serviço do céu."*
{* Literature of Europe, vol. 1, pág.
153.}
Embora dificilmente se enquadre no
escopo de nosso livro, mesmo que brevemente, esboçaremos a história da grande
descoberta para o bem de alguns de nossos leitores que podem não ter tais
histórias em mãos, mencionando apenas alguns detalhes, pois foi um dos agentes
mais poderosos da Reforma.
Desde antigamente, o modo de impressão a partir de blocos de madeira já era praticado. Às vezes, as gravuras ou impressões eram acompanhadas por algumas linhas de letras recortadas no bloco. Gradualmente, estes foram estendidos a algumas folhas e chamados de blocos de livros. Um ferreiro engenhoso, dizem, inventou no século XI letras separadas de madeira. O célebre Johannes Gutenberg, nascido em um vilarejo próximo a Mainz, no ano de 1397, substituiu as letras de madeira pelo metal, e seu sócio Schoeffer recortou os caracteres em uma matriz, após a qual os tipos eram fundidos, completando assim a arte da impressão como até hoje permanece*.
{* Este livro foi escrito no século XIX,
quando não havia ainda outros métodos de impressão, como o offset e a impressão digital, que são mais comuns hoje. Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Impress%C3%A3o. }