3. O fogo que queimou Pedro de Bruys nunca desencorajou nem silenciou seus seguidores. Um deles, chamado Henrique, um monge de Cluny, que também era diácono, tornou-se um pregador mais ousado e mais poderoso do que Pedro. Ao retirar-se do monastério, dedicou-se ao estudo do Novo Testamento, e, tendo ganhado um conhecimento do cristianismo direto da Palavra de Deus pura, desejava ir ao mundo proclamar a verdade aos seus semelhantes. Sua aparência pessoal e sua educação se combinavam para tornar sua pregação ainda mais poderosa e despertadora. A rápida mudança em seu semblante é comparada a um mar tempestuoso; sua estatura era elevada, seus olhos estavam revirados e inquietos; sua poderosa voz, seus pés descalços e aparência negligenciada atraíam a atenção, e eram marcadas pela fama de sua erudição e santidade.
Durante anos ele era apenas um jovem, mas seus tons profundos, sua eloquência maravilhosa, com sua aparência notável, horrorizavam o clero e encantavam o povo. Em um espírito similar ao de João Batista, ele chamava o povo ao arrependimento para que se convertessem ao Senhor, e não poucas vezes atacava os vícios já impopulares do clero.
Mas a oposição do clero que Henrique enfrentava apenas atraía mais o povo para si. Multidões, tanto das classes mais pobres quanto das mais ricas, o recebiam como guia espiritual em todas as coisas. A primeira vez que se ouviu falar dele, historicamente, foi em Lausana, mas atravessou o sul da França desde Lausana até Bordéus; e, como observa Neander, "ele atraía o povo para si, e os enchia de desprezo e ódio contra o alto clero -- dizendo que não deveriam ter nada a ver com eles. Eles deixavam de participar do serviço religioso, e o clero se achou exposto a insultos por parte da população, tendo que solicitar a proteção ao poder civil". O prudente bispo de Le Mans, vendo a influência que ele tinha conquistado sobre o povo, contentou-se em simplesmente direcionar Henrique a outro campo de trabalho. O zeloso monge retirou-se silenciosamente e apareceu em Provença, onde Pedro de Bruys tinha trabalhado antes dele. Ali ele desenvolveu ainda mais claramente sua oposição aos erros da igreja de Roma, e atraiu para si a mais amarga hostilidade da hierarquia clerical.
Henrique foi preso pelo arcebispo de Arles, sendo condenado como herege pelo Concílio de Pisa, que ocorreu em 1134, e sentenciado ao confinamento em uma cela. Em pouco tempo, ele escapou e retornou a Languedoque. Conta-se que deserções de igrejas e um total desprezo para com o clero seguiam o eloquente heresiarca por onde passava. Um legado chamado Alberico foi enviado pelo papa Eugênio III para subjugar a revolta, mas não foi proveitoso. "Henrique é um antagonista", disse ele, "que só pode ser derrubado pelo conquistador de Abelardo e de Arnaldo de Bréscia."
O poderoso abade de Claraval escreveu ao príncipe de Provença para que se preparasse para sua chegada, já adiantando o objetivo de sua vinda. "As igrejas", ele escreveu, "estão sem povo; o povo sem padres; os padres sem honra; e os cristãos sem Cristo. As igrejas não são mais tidas como santas, nem os sacramentos, nem as festas são celebradas. Os homens morrem em seus pecados -- almas são levadas às pressas ao terrível tribunal -- sem penitência ou comunhão; o batismo é recusado aos bebês, que são assim impedidos da salvação." O abade fez milagres, como se acreditava; o povo se maravilhava e se admirava; Henrique fugiu; Bernardo o perseguiu, purificando os lugares infectados pela pestilência da heresia. Por fim, o herege foi preso e levado acorrentado ao bispo de Toulouse, que o condenou à prisão, onde logo depois morreu repentinamente. Ele foi, então, libertado de todos os seus perseguidores no ano de 1148 e entrou em seu descanso.
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