Cremos que a expressão "nascer da água" não poderia, de forma alguma, se referir ao batismo. O novo nascimento é o tema do Salvador, sem o qual homem nenhum pode ver ou entrar no reino de Deus. Não havia ainda se tornado visível -- "o reino de Deus não vem com aparência exterior" (Lucas 17:20) -- mas estava lá entre eles, como a nova esfera de poder e bênção de Deus. A carne nunca poderia perceber esse reino. Cristo não tinha vindo para ensinar e melhorar a carne, como Nicodemos parece ter pensado; mas que o homem poderia ser participante da natureza divina que é transmitida pelo Espírito. Nenhum mero ritual exterior é capaz de admitir alguém ao reino. Deve haver uma nova natureza, ou uma nova vida, adequada à nova ordem de coisas. "Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (João 3:3). Então o Senhor mostra a Nicodemos o único caminho para entrar no reino: "Aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus". A água é aqui usada como um símbolo do poder purificador da Palavra de Deus, como em Pedro: "Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade". Aqui, a verdade é mencionada como o instrumento, e o Espírito como o agente do novo nascimento, como ele continua dizendo: "Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus". Duas coisas são necessárias - a Palavra e o Espírito (1 Pedro 1:22,23).
A passagem obviamente indica a aplicação da Palavra de Deus no poder do Espírito -- operando no coração, consciência, pensamentos e ações -- nos trazendo, assim, uma nova vida de Deus, na qual temos Sua mente e Seus pensamentos sobre o reino. As seguintes passagens farão com que isto fique ainda mais claro: "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade" (Tiago 1:18). "Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra" (Efésios 5:26). "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado" (João 15:3). Aqui temos a purificação moral da alma pela aplicação da Palavra através do Espírito, que julga todas as coisas, e que opera em nós novos pensamentos e afeições adequados à presença e glória de Deus.
Como uma questão de interpretação, então, não vemos alusão alguma ao batismo em João 3:5: o batismo manifesta o que já foi transmitido, porém o batismo em si mesmo não transmite nada. Por outro lado -- de acordo com os comentários inspirados nas Epístolas -- o batismo é o sinal da morte, não de dar vida, como os "pais" uniformemente afirmavam. "Ou não sabeis", diz o apóstolo, "que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte" (Romanos 6:3-4, Colossenses 2, 1 Pedro 3). Além disso, é perfeitamente claro que Nicodemos não podia saber qualquer coisa sobre o batismo cristão, já que ele não foi instituído por nosso Senhor até depois de Ele ter ressuscitado dentre os mortos.
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