sábado, 15 de agosto de 2015

Paulo em Mileto

O estágio mais importante dessa jornada é Mileto, embora os diferentes lugares em que eles passam sejam cuidadosamente notados pelo historiador sagrado. Paulo, estando cheio do Espírito, dá direções para a viagem. Seus companheiros, de bom grado, lhe obedecem, mas não como a um mestre, mas como a um que dirige na humildade do amor e na sabedoria de Deus. Ele decide não ir a Éfeso, embora fosse um lugar central, pois ele tinha o propósito no coração de ir a Jerusalém no dia de Pentecostes. Mas, como o navio viria a ser detido algum tempo em Mileto, ele envia uma carta aos anciãos da igreja em Éfeso para poderem se encontrar. Dizem que a distância entre os dois lugares é de cerca de 48 quilômetros, de modo que levaria dois ou três dias para ir e voltar. Mesmo assim, tiveram tempo suficiente para se reunirem antes do navio sair. Assim o Senhor pensa em Seus servos e faz com que todas as coisas cooperem para o bem e para Sua própria glória.
O discurso de despedida de Paulo aos anciãos de Éfeso é característico e representativo, exigindo nosso mais cuidadoso estudo. Ele põe diante de nós a profunda e tocante afeição do apóstolo, a posição da igreja naquele tempo, e a obra do evangelho entre as nações. Ele os exorta com incomum seriedade e ternura; ele sentia que estava se dirigindo a eles pela última vez; ele os lembra de seus trabalhos entre eles "servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas" (Atos 20:19). Ele os adverte contra os falsos mestres e heresias - os lobos cruéis que entrariam no meio deles, e os homens amantes de si mesmos que se ergueriam, falando coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. "E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos, e orou com todos eles. E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até o navio." (Atos 20:36-38)

Como este pensamento sobre Paulo é da mais elevada importância, e marca uma época distinta na história da igreja, além de lançar luz divina sobre todos os sistemas eclesiásticos, podemos citar um pensamento abrangente e compreensivo de outro autor:

"A igreja estava consolidada sobre uma extensa área do território, e em vários lugares tinha tomado a forma de uma instituição comum. Anciãos eram estabelecidos e reconhecidos. O apóstolo podia chamá-los para ter com ele. Sua autoridade era também reconhecida por parte deles. Ele fala de seu ministério como algo passado - solene pensamento!... Assim, o que o Espírito Santo coloca diante de nós é que, agora, quando os detalhes de sua obra entre os gentios de plantar o evangelho são relatados como um panorama entre judeus e gentios, ele diz adeus ao trabalho. Isto para que pudesse deixar aqueles que ele havia reunido em uma nova posição e, em certo sentido, entregues a si mesmos. É um discurso que marca a cessação de uma fase da igreja - a dos trabalhos apostólicos - e a entrada de uma outra: a responsabilidade da igreja de manter-se firme agora que esses trabalhos tinham cessado; o serviço dos anciãos, a quem 'o Espírito Santo constituiu supervisores (bispos)' (Atos 20:28); e, ao mesmo tempo, os perigos e dificuldades que se seguiriam após o fim dos trabalhos apostólicos, complicando o trabalho dos anciãos, a quem a responsabilidade recairia especialmente.

"A primeira observação que decorre da consideração deste discurso é que a sucessão apostólica é inteiramente negada. Devido à ausência do apóstolo, várias dificuldades surgiriam, e não haveria ninguém em seu lugar para lidar ou prevenir estas dificuldades. Sucessor, portanto, ele não tinha. Em segundo lugar, parece que o fato de que esta energia, que freava o espírito do mal, uma vez que estivesse longe, faria erguer as cabeças dos lobos devoradores vindos de fora, e dos mestres de coisas perversas vindos de dentro, que atacariam a simplicidade e a felicidade da igreja. Esta seria assediada pelos esforços de satanás, uma vez que não possuía mais a energia apostólica para resistir-lhes. Em terceiro lugar, o que de primordial deveria ser feito para o impedimento do mal era alimentar o rebanho, e vigiar, quer sobre si mesmos ou sobre o rebanho, para aquele propósito. Ele então os encomenda - nem a Timóteo nem a algum bispo, mas de um modo que deixa de lado qualquer tipo de recurso oficial - a Deus e à palavra de Sua graça. Nesse ponto ele deixa a igreja. Os trabalhos em liberdade do apóstolo dos gentios estavam terminados. Ele tinha sido o instrumento escolhido de Deus para comunicar ao mundo Seus conselhos a respeito da igreja e para estabelecer na mente do mundo o precioso objeto de Suas afeições, unida a Cristo à Sua mão direita. O que seria dela aqui?" *

{* The Present Testemony [O Atual Testemunho], v. 8, p. 405-407.}

Atos 21. Com um vento justo, Paulo e sua companhia partiam de Mileto, enquanto os entristecidos anciãos de Éfeso se preparavam para sua viagem de volta. Em um curso reto eles velejaram a Cós, Rodes, e daí até Pátara e Tiro. A partir do que aconteceu lá - tão similar ao que houve em Mileto - é evidente que Paulo logo conquistou o coração dos discípulos. Embora ele tenha ficado apenas uma semana em Tiro, não conhecendo os cristãos dali, ele tinha ganhado suas afeições. "E seguimos nosso caminho, acompanhando-nos todos", diz Lucas, "com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos." (Atos 21:5). Parece também que um espírito de profecia foi derramado sobre esses afetuosos cristãos de Tiro, pois eles advertiram o apóstolo para que não fosse a Jerusalém. Após esperar ali por sete dias, foram a Ptolemaida, onde ficaram por um dia. Em Cesareia, ficaram hospedados na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete. Ele também já é bem conhecido nosso, mas é interessante encontrá-lo novamente após um intervalo de mais de vinte anos. Agora ele tem quatro filhas virgens que profetizavam. Aqui Ágabo, o profeta, previu o aprisionamento de Paulo, e rogou-lhe que não fosse a Jerusalém. Todos os discípulos disseram o mesmo, e suplicavam-lhe com lágrimas para que não fosse. Mas embora o coração terno e sensível de Paulo deva ter se movido pelas lágrimas e suplicas de seus amigos e de seus próprios filhos na fé, ele decidiu não alterar sua resolução e não deixar de lado seu propósito. Ele se sentiu compelido em espírito a ir, e pronto a deixar todas as consequências à vontade do Senhor.

domingo, 2 de agosto de 2015

Paulo deixa Corinto

A obra do apóstolo tinha agora sido terminada em Corinto, e ele se prepara para ir embora. Sua mente se inclinava a ir a Roma, mas havia uma missão de caridade em seu coração a qual ele devia acatar primeiro. Somos favorecidos com suas próprias palavras sobre esses diferentes pontos: "Mas agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir ter convosco, quando partir para Espanha irei ter convosco; pois espero que de passagem vos verei, e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia. Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos. Porque pareceu bem à macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém." (Romanos 15:23-26). Quanto à sequência de nomes em Atos 20:4 - Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Tíquico e Trófimo - supõe-se que sejam irmãos que tinham em mãos as coletas que tinham sido feitas nos diferentes lugares mencionados. Em vez de velejar direto para a Síria, ele rodeia a Macedônia, por causa dos judeus que estavam à espreita. Seus companheiros o esperavam em Trôade. Lá ele passou o dia do Senhor (domingo) e uma semana inteira, a fim de ver os irmãos.

Devemos observar brevemente o que aconteceu nesse estágio de sua jornada. Duas coisas, de imensa importância para os cristãos, estão ligadas a isso - o dia do Senhor e a Ceia do Senhor. O historiador, que estava com Paulo nesse tempo, entra com incomum minúcia sobre os detalhes daquele dia.

É evidente, a partir desta incidental observação, que era o estabelecido costume dos primeiros cristãos se reunirem no "primeiro dia da semana" com a compreendida finalidade do "partir o pão". Temos aqui o principal objetivo e o momento normal da reunião deles. "E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão" (Atos 20:7; Veja também 1 Coríntios 16:2, João 20:19, Apocalipse 1:10). Mesmo o discurso do apóstolo, precioso como era, é mencionado como algo secundário. A lembrança do amor do Senhor ao morrer por nós, e tudo aquilo que Ele nos deu ao ressuscitar, era, e continua sendo, o principal. Se houver uma oportunidade também para o ministério da Palavra, assim como para reunir os pensamentos e afeições dos adoradores de Cristo, é bom que haja; mas o partimento do pão deve ser a primeira consideração, e o principal objetivo da assembleia. A celebração da Ceia do Senhor nessa ocasião foi à noite. No início, o partimento do pão também era observado em alguns lugares antes do amanhecer, e em outros, após o pôr do sol. Mas aqui os discípulos não eram obrigados a se reunirem em segredo. "E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos." (Atos 20:8). E Paulo continuou sua fala até a meia-noite, pois deveria partir no dia seguinte. Foi uma ocasião extraordinária, e Paulo aproveita a oportunidade de conversar com eles a noite toda. Ainda não havia chegado o tempo, como disse alguém, em que os ternos discursos do coração seriam cronometrados, quando a duração da ardente agonia do pregador pelas almas perdidas seria contada no relógio pela frieza dos meros professos, ou pela descuidada indiferença dos cristãos mundanos. Êutico, um rapaz, caiu no sono e "caiu do terceiro andar... e foi levantado morto." (Atos 20:9). Isto foi visto por alguns como um castigo pela sua falta de atenção, mas foi um milagre; o rapaz foi levantado de um estado de morte pelo poder e bondade de Deus através de Seu servo Paulo, e todos ficaram grandemente reconfortados.

sábado, 25 de julho de 2015

A Partida de Paulo de Éfeso para a Macedônia

Atos 20. Após o tumulto ter cessado, o perigo acabado e os manifestantes dispersos, Paulo se despede dos discípulos, os abraça, e parte para a Macedônia. Dois dos irmãos efésios, Tíquico e Trófimo, parecem tê-lo acompanhado, mantendo-se fiéis a ele em meio a todas as suas aflições. Eles são mencionados com frequência, e inclusive aparecem no último capítulo de sua última epístola, em 2 Timóteo 4.

O historiador sagrado é extremamente breve em seu registro sobre o proceder de Paulo neste momento. Toda a informação que ele dá é comprimida nas seguintes palavras: "Saiu para a macedônia. E, havendo andado por aquelas terras, exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia. E, passando ali três meses..." (Atos 20:1-3). É geralmente suposto que essas poucas palavras abrangem um período de nove ou dez meses - do começo do verão de 57 d.C. até a primavera de 58 d.C. Mas esta falta de informação é, felizmente, suprida nas cartas do apóstolo. Aquelas que foram escritas durante essa jornada nos suprem com vários detalhes históricos e, o que é melhor, elas nos dão, da sua própria caneta, uma imagem viva dos profundos e dolorosos exercícios da mente e do coração pelas quais ele estava passando.

Parece que Paulo tinha combinado de se encontrar com Tito em Trôade, que lhe traria notícias direto de Corinto sobre o estado das coisas por lá. Mas semana após semana se passou, e Tito não aparecia. Sabemos alguma coisa sobre as obras dessa grande mente e coração nesse tempo pelo que ele mesmo diz: "Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e abrindo-se-me uma porta no Senhor, não tive descanso no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito; mas, despedindo-me deles, parti para a macedônia." (2 Coríntios 2:12,13). Sua ansiedade pessoal, no entanto, não o impediu de ir em frente com a grandiosa obra do evangelho. Isto é evidente nos versículos de 14 a 17.

Finalmente o há muito esperado Tito chega à Macedônia, provavelmente em Filipos. E agora a mente de Paulo é aliviada e seu coração confortado. Tito lhe traz melhores notícias de Corinto do que ele esperava ouvir. A reação é manifesta: ele se enche de louvor a Deus: "Grande é a ousadia da minha fala para convosco", diz ele, "grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de consolação; transbordo de gozo em todas as nossas tribulações. Porque, mesmo quando chegamos à macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito." (2 Coríntios 7:4-6)

Logo após isso, Paulo escreve sua Segunda Epístola aos Coríntios, que descobrimos ser dirigida não apenas a eles, mas a todas as igrejas em toda a Acaia. Todas elas podiam ter sido mais ou menos afetadas pela condição das coisas em Corinto. Tito é novamente o servo voluntário do apóstolo, não apenas como portador da segunda carta à igreja em Corinto, mas também tendo um papel especial nas coletas que eles faziam para os pobres. Paulo não apenas dá a Tito estritas instruções sobre as coletas, como também escreve dois capítulos sobre o assunto (capítulos 8 e 9), embora este fosse mais o trabalho de diáconos do que de apóstolos. Mas, como tinha dito ele em resposta à sugestão de Tiago, Cefas e João, de que ele deveria se lembrar dos pobres - "Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência." (Gálatas 2:10)

O espaço que o apóstolo dedica aos assuntos relacionados às coletas para os pobres é notável e merece nossa cuidadosa consideração. Pode ser que alguns de nós tenhamos ignorado este fato até agora. Observe, por exemplo, o que ele diz de uma igreja em particular. Temos boas razões para acreditar que os filipenses, desde o começo, se importavam com o apóstolo - eles o pressionaram a aceitar suas contribuições para ajudá-lo, desde sua primeira visita a Tessalônica até seu aprisionamento em Roma, além de sua generosidade para com os outros (2 Coríntios 8:1-4). Mas alguns podem imaginar, a partir disso, que eles eram uma igreja rica. Pelo contrário. Paulo nos diz: "Como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade." (2 Coríntios 8:2). Eles doavam com tanta generosidade o que tinham de sua própria pobreza.

O que os filipenses são nas Epístolas, a viúva pobre é nos Evangelhos - duas moedinhas era tudo o que ela tinha. Ela podia ter dado uma e ficado com a outra; mas ela tinha um coração não dividido, e ela deu as duas. Ela, também, deu o que tinha de sua pobreza, e onde quer que o evangelho seja pregado por todo o mundo, essas coisas hão de ser contadas como um memorial da generosidade deles.

Após Paulo ter enviado a Tito e os que estavam com ele com a Epístola, ele permaneceu "naquelas partes" da Grécia fazendo a obra de um evangelista. Sua mente, no entanto, almejava fazer uma visita pessoal aos coríntios. Mas ele concedeu tempo para que sua carta produzisse seus próprios efeitos sob a bênção de Deus. Um dos objetivos do apóstolo era preparar o caminho para seu ministério pessoal entre eles. É comum o pensamento de que foi durante este período que ele pregou plenamente o evangelho de Cristo aos arredores até o Ilírico (Romanos 15:19). É provável que ele tenha alcançado Corinto no inverno, de acordo com sua expressa intensão: "E bem pode ser que fique convosco, e passe também o inverno" (1 Coríntios 16:6). Lá ele ficou por três meses.

Todos estão de acordo, podemos dizer, que foi durante esses meses de inverno que ele escreveu sua grande Epístola aos Romanos. Alguns dizem que ele também escreveu sua Epístola aos Gálatas neste mesmo período. Mas há grande diversidade de opiniões entre os cronologistas sobre este ponto. Pela ausência de nomes e saudações, como temos na Epístola aos Romanos, é difícil determinar sua data. Mas se ela não foi escrita neste tempo em particular, mesmo assim devemos mencioná-la mais cedo, e não mais tarde. O apóstolo ficou surpreso pelo antecipado abandono da verdade. "Maravilho-me", diz ele, "de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho" (Gálatas 1:6). Seu grande desapontamento é manifesto no calor do espírito no qual escreve essa Epístola.

Mas devemos retornar à história do nosso apóstolo: não nos adentraremos mais a fundo nas sutilezas da cronologia. Mas após compararmos as últimos escritos, relataremos o que acreditamos serem as datas mais confiáveis.

domingo, 12 de julho de 2015

O Tumulto em Éfeso

Um grande e abençoado trabalho tinha agora sido cumprido pela poderosa energia do Espírito de Deus, por meio de Seu servo escolhido, Paulo. O evangelho tinha sido pregado na capital da Ásia, e tinha sido espalhado por toda a província. O apóstolo agora sentia que seu trabalho tinha terminado ali, e planeja ir a Roma, a capital do Ocidente e metrópole do mundo. A Grécia e a Macedônia já tinham recebido o evangelho, mas ainda faltava Roma. "E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma." (Atos 19:21)

Mas enquanto Paulo fazia os arranjos para a próxima viagem, o inimigo planejava um novo ataque. Seus recursos ainda não tinham sido esgotados. Demétrio excita a multidão ignorante contra os cristãos. Um grande tumulto começa, sendo as paixões dos homens despertadas contra os instrumentos do testemunho de Deus. Os oficiais de Demétrio levantaram o clamor de que não somente a profissão deles corria perigo, como também que o templo da grande deusa Diana corria o risco de ser desprezado. Quando a multidão ouviu essas coisas, se encheram de raiva e gritaram, dizendo: "Grande é a Diana dos efésios." (Atos 19:28). A cidade inteira estava agora imersa em confusão, mas Paulo misericordiosamente - pelos seus irmãos, e por alguns dos principais governantes da Ásia que eram seus amigos - se abstém de comparecer ao teatro.

Os judeus evidentemente começaram a temer que a perseguição se voltasse contra eles, pois a maioria das pessoas não sabia com que propósito tinham ali se ajuntado. Eles, então, põem um certo Alexandre diante da multidão, provavelmente com a intenção de transferir a atenção para cima dos cristãos; mas no momento em que os pagãos descobriram que ele era um judeu, a fúria deles aumentou: o grito de guerra foi novamente levantado, e por duas horas inteiras as pessoas gritavam: "Grande é a Diana dos efésios.". Felizmente, para todas as partes, o escrivão da cidade era um homem de grande tato e admirável política. Ele acalmou e dissolveu a aglomeração. Mas, para a fé, era Deus usando a eloquência persuasiva de um oficial pagão para proteger Seus servos e Seus muitos filhos que estavam ali.

O tão afamado templo de Diana foi contado pelos antigos como uma das maravilhas do mundo; o sol, diziam, não via nada em seu curso mais magnífico que o templo de Diana. Era construído com o mais puro mármore, e levou 220 anos para ser terminado. Mas com a disseminação do cristianismo, se afundou em decadência, e quase nada dele agora sobrou para nos mostrar como era. O comércio de Demétrio era a confecção de pequenos modelos em prata do santuário da deusa. Estes eram colocados nas casas, guardados em memoriais e carregados em viagens. Mas como a introdução do cristianismo necessariamente afetou as vendas desses modelos, os artesãos pagãos foram instigados por Demétrio a levantar um clamor popular em favor de Diana contra os cristãos.

sábado, 4 de julho de 2015

A Terceira Viagem Missionária de Paulo (por volta de 54 d.C.)

Capítulo 6

A Terceira Viagem Missionária de Paulo (por volta de 54 d.C.)

 

Tendo passado "algum tempo" na Antioquia, Paulo deixa o centro gentio e parte para outra viagem missionária. Nada é dito sobre seus companheiros nesta ocasião. Ele "passou sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia, confirmando a todos os discípulos" (Atos 18:23), e também dando instruções para a coleta em favor dos santos pobres em Jerusalém (1 Coríntios 16:1,2). Em pouco tempo ele chegou ao centro de sua obra na Ásia.

Éfeso. Nesta época era a maior cidade da Ásia Menor, e a capital da província. Devido à sua posição central, era o ponto de encontro comum de várias personagens e classes de homens. Por esta altura, Apolo tinha partido para Corinto, mas ainda havia outros doze discípulos de João em Éfeso. Paulo fala com eles sobre seu estado e posição. Devemos tomar uma rápida nota do que ocorreu.

O batismo de João requeria o arrependimento, mas não a separação da sinagoga judaica. O evangelho ensina que o cristianismo é fundamentado na morte e ressurreição. O batismo cristão é um símbolo significativo e expressivo dessas verdades. "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos." (Colossenses 2:12) Como esses homens eram inteiramente ignorantes sobre as verdades fundamentais do cristianismo, supomos que eles nunca tinham se misturado com cristãos. O apóstolo, sem dúvida, explicou para eles sobre a eficácia da morte e ressurreição de Cristo, e sobre a descida do Espírito Santo. Eles creram na verdade e receberam o batismo cristão. Então Paulo, por sua capacitação apostólica, impõe suas mãos sobre eles, e eles são selados com o Espírito Santo, "e falavam línguas, e profetizavam" (Atos 19:6).

Imediatamente após a menção desse importante acontecimento, nossa atenção é direcionada às obras do apóstolo na sinagoga. Durante três meses ele pregou a Cristo ousadamente lá, disputando e persuadindo seus ouvintes "acerca do reino de Deus." (Atos 19:8). Os corações de alguns "se endureceram", enquanto outros se arrependeram e creram; mas enquanto muitos dos judeus tomaram o lugar dos adversários, e "falaram mal do Caminho perante a multidão" (Atos 19:9), Paulo age da forma mais definitiva possível. Ele "separou os discípulos" da sinagoga judaica e deles formou uma nova assembleia, se reunindo com eles "diariamente na escola de um certo Tirano" (Atos 19:9). Este é um ato profundamente interessante e instrutivo por parte do apóstolo, mas ele age conscientemente no poder e na verdade de Deus. A igreja em Éfeso é agora perfeitamente distinta, tanto em relação aos judeus quanto em relação aos gentios. Aqui vemos ao que o apóstolo, em outro lugar, se refere em sua exortação: "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus." (1 Coríntios 10:32). Onde esta importante distinção não é vista haverá grande confusão de pensamento tanto quanto à Palavra quanto aos caminhos de Deus.

O apóstolo agora aparece como o instrumento do poder de Deus de forma notável e marcante. Ele comunica o Espírito Santo aos doze discípulos de João, separa os discípulos de Jesus e formalmente funda a igreja em Éfeso. Seu testemunho ao Senhor Jesus é ouvido em toda a Ásia, tanto pelos judeus quanto pelos gregos; milagres extraordinários são operados por suas mãos e enfermidades fugiam de muitos apenas ao tocar a borda de suas vestes. O poder do inimigo desaparece diante do poder que está em Paulo; as consciências dos pagãos são alcançadas, e o domínio do inimigo sobre eles se vai. O medo caiu sobre muitos que "seguiam artes mágicas", e eles mesmos queimaram seus livros de magia que, no total, custariam hoje em dia cerca de R$1.300.000,00. "Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia." (Atos 19:20). Assim o poder do Senhor foi demonstrado na pessoa e na missão de Paulo, e seu apostolado estabelecido de forma inquestionável.

O apóstolo havia agora passado cerca de três anos de incessante trabalho em Éfeso. E ele mesmo diz, ao se dirigir aos anciãos em Mileto: "Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós." (Atos 20:31). É também suposto que, durante este período, ele tenha feito uma rápida visita e tenha escrito a Primeira Epístola aos Coríntios.

terça-feira, 30 de junho de 2015

O Retorno de Paulo à Antioquia

Após uma jornada que se estendeu em um espaço de três ou quatro anos, nosso apóstolo retorna à Antioquia. Ele tinha viajado um longo circuito, e disseminado o cristianismo em muitas cidades prósperas e populosas, quase que inteiramente por seus próprios esforços. Se o leitor deseja manter interesse na história de Paulo, deve notar clara e distintamente as grandes épocas na vida de Paulo, e os principais pontos em suas diferentes jornadas. Mas antes de começar com Paulo em sua terceira jornada missionária, pode ser interessante tomar nota de um outro grande pregador do evangelho que aparece exatamente neste momento, e cujo nome, ao lado do apóstolo, é talvez o mais importante na história do início da igreja (N. do T., tirando o nome do próprio Senhor).

Apolo era um judeu de nascença, natural da Alexandria. Ele era um "homem eloquente e poderoso nas Escrituras ... conhecendo somente o batismo de João" (Atos 18:24,25). Ele era devoto, sincero e reto, publicamente confessando e pregando aquilo que conhecia, e o poder do Espírito Santo era manifesto nele. Não parece que ele tenha recebido qualquer designação, ordenação ou sanção de qualquer tipo, nem dos doze nem de Paulo. Mas o Senhor, que está acima de todos, o chamou, e estava agindo nele e por ele. Vemos assim, no caso de Apolo, a manifestação do poder e liberdade do Espírito Santo, sem a intervenção humana. É interessante observar isto. A ideia de um clericalismo exclusivo é a negação prática da liberdade do Espírito em agir por quem Ele quer. Mas embora ardente em zelo e um locutor poderoso, Apolo conhecia apenas o que João (o batista) tinha ensinado a seus discípulos. O Senhor sabia disto, e proveu mestres para ele. Dentre aqueles que ouviam a seus fervorosos apelos, dois dos bem instruídos discípulos de Paulo foram conduzidos a tomar um interesse especial por ele. E embora ela fosse ensinado e eloquente, ele era humilde o bastante para ser instruído por Áquila e Priscila. Eles o convidaram à sua casa e, sem dúvida, em espírito humilde, "lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus" (Atos 18:26). Que simples! Que natural! E que belo! Tudo é do Senhor. Ele ordenou que Áquila e Priscila fossem deixados em Éfeso - que Apolo deveria vir e animar o povo em Éfeso antes da chegada de Paulo; e, após ser instruído, que deveria ir a Corinto e ajudar na boa obra naquele lugar, obra esta iniciada por Paulo. Apolo regou o que Paulo tinha plantado, e Deus deu um aumento abundante. Tais são os benditos caminhos do Senhor em Seu pensativo amor e carinhoso cuidado por Seus servos, e por todas as Suas assembleias.

sábado, 20 de junho de 2015

A Quarta Visita de Paulo a Jerusalém

Não nos são fornecidas quaisquer informações, pelos historiadores sagrados, sobre o que ocorreu em Jerusalém naquela ocasião. Apenas nos é dito que Paulo "subiu a Jerusalém e, saudando a igreja, desceu a Antioquia." (Atos 18:22). Mas seu intenso desejo de fazer esta visita pode nos assegurar sua grande importância. Ele pode ter sentido que  tinha chegado a hora quando os judeus cristãos, reunidos na festa, deveriam ouvir um relato completo da recepção do evangelho entre os gentios. Colônias romanas e capitais gregas tinham sido visitadas, e uma grande obra de Deus tinha sido cumprida. Tudo isto teria sido perfeitamente natural e correto, mas desejamos não remover o véu que o Espírito Santo colocou sobre essa visita.

Paulo desce de Jerusalém à Antioquia, visitando todas as assembleias que ele tinha inicialmente formado; e assim, de certo modo, unindo sua obra: Antioquia e Jerusalém. Até onde sabemos, foi a última visita de Paulo à Antioquia. Já vimos como novos centros de vida cristã tinham sido estabelecidos por ele nas cidades gregas do Egeu. O curso do evangelho segue cada vez mais para o Ocidente, e a parte inspirada da biografia do apóstolo, após um curto período de profundo interesse na Judeia, finalmente se centraliza em Roma.

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